A Açorda Alentejana é por muitos considerado um dos pratos mais estranhos à fase da terra. Pão com água... quente... Como é que se pode gostar disso?... Em Lisboa chama-se-lhe por vezes de Sopa Alentejana para a distinguir das outras açordas mas nenhum alentejano que se preze lhe chamará assim. É açorda não é sopa... Para mim é dos pratos mais reconfortantes que se pode comer e especialmente adequado aos almoços que se seguem a jantares e noites prolongadas. Nada como uma açorda para apaziguar um estomago reticente devido aos excessos da noite anterior. A açorda, têm assim, desde há alguns anos, um lugar cativo no almoço do dia de Natal da minha família. Pode parecer pouco nobre mas substitui bem a tradicional Roupa Velha e sabe tão bem...
Cozer uma ou duas postas de bacalhau numa panela com uma quantidade abundante de água. O bacalhau destina-se a dar sabor à água da açorda pelo que poderá ser usada apenas uma posta mesmo que a açorda seja para 5 ou 6 pessoas. Obviamente quanto mais bacalhau for cozido mais calhará a cada mas não é suposto que se coza uma posta por pessoa. A água da cozedura do bacalhau vai ser usada para açorda pelo que a quantidade deverá ser suficiente para a quantidade de açorda que vamos fazer. Em princípio não será necessário colocar sal pois o bacalhau se tiver sido demolhado no ponto não necessitará e o tempero para a açorda será feito mais tarde. Cozer também ovos. Há quem escalfe os ovos mas na casa dos meus pais não é habitual fazer isso.
Na tigela onde vai ser feita e servida a Açorda colocar uma quantidade generosa de coentros picados, alhos picados, sal e uma quantidade generosa de azeite de modo a que todos os ingredientes fiquem bem envolvidos no azeite. Uma referência para a quantidade de alhos será um por cada duas pessoas mas nos alhos como para os outros temperos cada um deverá ajustar as quantidades ao seu gosto e ir experimentando até ficar satisfeito. Não é obrigatório mas é preferível retirar o grelo do alho. Opcionalmente poderá acrescentar-se também um pouco de poejo picado. A quantidade de poejo não deverá ser muito grande devido ao seu sabor intenso. Há quem junte também malagueta fresca ou seca também picada. Com um pilão pisar estes ingredientes no fundo da tigela. Isto pode ser feito à parte num almofariz mas normalmente faz-se na própria tigela onde a Açorda será servida.
O pão deverá ser alentejano e de preferência não deverá ser do próprio dia. A côdea é uma das partes do pão mais disputada pelo que deverão ser cortados alguns pedaços quase exclusivamente só com côdea. A açorda deverá ter um pedaço destes de côdea por cada pessoa sendo servido um destes pedaços a cada uma delas. O resto do pão deverá ser cortado em fatias que poderão ser usadas inteiras ou cortadas em pedaços com uma faca ou à mão. É uma questão de gosto pessoal. Idealmente todos os pedaços deverão ter um pouco de côdea de maneira a evitar que os pedaços se desfaçam com facilidade.
Estando o bacalhau cozido e a água a ferver, retira-se o bacalhau para uma travessa onde será servido. Os ovos descascados e o bacalhau podem ser servidos na tigela da Açorda sendo acrescentados após o pão, mas na casa dos meus pais são normalmente servidos numa travessa à parte regados com um pouco da água da açorda após esta ter sido temperada. A água a ferver deverá ser adicionada às ervas pisadas na tigela onde será servida a açorda. Não encher muito mais do que dois terços da tigela pois temos que guardar espaço para o pão. Mexer, provar e acertar o tempero, em especial o sal. Depois de estar satisfeito com tempero será só a acrescentar o pão e servir. Espere que todos se sentem à mesa e acrescente o pão, deixe que este a absorva os temperos por uns momentos, regue o pão com um pouco da água da açorda e sirva logo de seguida. Agora é só comer e reconfortar o corpo e o espirito...
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