O Novo Monte da Cal

A atual Global Wines é a herdeira da Dão Sul que há uns anos atrás mostrou um fulgor desmedido com uma grande expansão aquém e além fronteiras. Ainda durante a sua fase de crescimento a Dão Sul já não cabia dentro das fronteiras do seu nome e fez-se a Global Wines para alargar o horizontes da empresa. Entretanto o ímpeto de crescimento viu-se refreado e Global Wines atravessou um período algo conturbado com saídas, entradas, compras abortadas e vendas que culminou com uma mudança de estrutura acionista em meados do ano passado. Os efeitos da reestruturação acionista foram fazendo-se sentir e chegam agora aos seus vinhos alentejanos produzidos na Herdade do Monte Cal.

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Uma das constatações que presidiu ao relançamento do Monte da Cal foi o facto das gamas de entrada dos vinhos do Monte da Cal estarem posicionadas um pouco acima daquilo que a procura nos vinhos Alentejanos parece pedir. Assim além da mudança de imagem fez-se esse reposicionamento de modo a cobrir melhor o mercado. A enologia está a cargo de Osvaldo Amado coadjuvado pelo enólogo residente Ivo Silva. Nota-se o cunho do Osvaldo Amado e uma tentativa de imprimir um perfil mais fresco a estes vinhos alentejanos sem no entanto renegar as suas origens. O posicionamento será estruturado em 4 marcas com 5 referencias: Cal, gama de entrada direcionada à restauração, Monte da Cal Colheita Selecionada, gama média, Monte da Cal Reserva, gama média-alta, Herdade Monte da Cal Saturnino, gama alta e Vinha de Saturno, topo de gama que só será lançado em anos de excelência.


O almoço de apresentação do novo Monte da Cal deu-se n'O Galito, um restaurante alentejano de que já tinha ouvido falar muito mas que nunca tinha tido a oportunidade de visitar. Diz-se que será dos melhores, senão o melhor, restaurante alentejano de Lisboa e o que nos foi servido nesse dia não o desmentiu.


O Cal Branco 2014 mostrou-se quase incolor, tão pálido era o seu amarelo, com aromas a frutos tropicais. Acidez ligeira complementada por um vegetal com algum amargor. Fresco e ligeiro mas muito bem conseguido, capaz de fazer boa companhia neste Verão.


O Monte da Cal Colheita Selecionada Tinto 2013 apresentou-se granada com laivos violeta com aromas florais, ligeiro químico e balsâmico. Algum vegetal, acidez ligeira num vinho direto e acessível mas com personalidade.


O Herdade Monte da Cal Saturnino Branco 2013 mostra-se amarelo claro ligeiramente esverdeado com aromas tropicais a revelar alguma banana. Na boca mostra uma acidez ligeira complementado por algum vegetal e uma boa untuosidade a dar-lhe corpo. Tem muito potencial e beneficiará de mais algum tempo em garrafa.


Por fim provou-se o Herdade Monte da Cal Saturnino Tinto 2011 que se mostrou granada com laivos violeta, tendo no nariz alguma terra molhada, balsâmico e mentol. Nota-se bem a presença do Alicante Bouschet. Na boca mostra boa acidez e algum vegetal estando muito bem conseguido. Tal como o branco não desdenhará mais algum tempo em garrafa.


Tendo raízes alentejanas e considerando o que vinha ouvindo sobre O Galito foi com muita expectativa que fui a esta apresentação. Como entradas tínhamos Salada de Coelho, Salada de Favas, Queijo de Ovelha e Ovos em Tomates. Tudo muito competente e bem alinhado com os sabores da tradição alentejana sem tornarem banais ou completamente previsíveis, pois a Salada de Coelho apesar de estar muito enraizada na tradição alentejana é um prato menos habitual e fugiu-se aos omnipresentes Ovos com Farinheira com os Ovos em Tomates. Continuou-se com a Sopa de Tomate, Corvina e Ovo Escalfado que fugiu um pouco à minha definição pessoal de sopa de tomate por estar menos rica em tomate mas que estava ótima em termos de sabor. Já a Açorda de Bacalhau e Ovo Escalfado estava exuberante na quantidade coentros que trazia no prato que me pareceu francamente exagerada embora isso também não se tenha revelado em problema em termos de sabor. Terminou-se a fase salgada da refeição com o Lombo de Porco Alentejano com Arroz de Coentros que se revelou competente sem se destacar tanto como os pratos anteriores.


Fica um pequeno reparo circunstancial que até pode ser considerado deslocado relativamente a um restaurante de cariz tradicional, incluir 2 ovos escalfados em dois pratos consecutivos depois de uma das entradas ter também ovos, isto mesmo esquecendo dos ovos da sobremesa, é um pouco exagerado e até repetitivo. Sendo o serviço normal d'O Galito feito à carta é óbvio que este comentário é quase irrelevante para o seu dia-a-dia mas até pelo carácter espartano de muita da cozinha alentejana seria de evitar excessos como estes nestas ocasiões especiais. Não sei se será o melhor restaurante alentejano de Lisboa, pois acabam por serem restaurantes que não frequento muito em Lisboa pois tenho a cozinha alentejana com frequência à minha mesa. Mas é um restaurante a que quero voltar e onde não teria quaisquer problemas em levar lá a minha mãe a comer alguns pratos que ela tão bem faz. Quem me conhece saberá que este será um dos melhores elogios que poderia fazer.


Para acompanhar a Sericá, tivemos um Moscatel do Douro proveniente da Quinta da Sá de Baixo também pertencente ao portefólio da Global Wines. O Conde de Sabugal 2009 é um moscatel de estágio curto (2 anos em madeira) que sofre um pouco com isso revelando um perfil floral exuberante e com a doçura a sobrepor-se em demasia à acidez. Poderá agradar a quem goste de moscateis jovens com muita doçura.


Um recomeço da Herdade do Monte da Cal que parece ter tudo para ser bem sucedido.

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