A Murta, o Pato e a Laranja Chez Jules

A Ema e o Nuno apresentaram-me virtualmente ao Hugo há uns tempos atrás. Desde essa altura que venho seguindo o seu blogue e desde à uns meses até fazemos parte do mesmo Planeta Vínico. O Hugo é enólogo na Quinta da Murta e na Quinta das Carrafouchas e no seu blogue relata entre outras coisas alguns aspectos das suas experiencias profissionais. Aprecio bastante a forma como por vezes aborda certos temas polêmicos sem preconceitos, às vezes contra o dogmatismo generalizado. Um exemplo do que falo é o artigo que escreveu sobre a eterna discussão acerca da opção entre vedantes sintéticos e rolhas de cortiça. Já nos tínhamos cumprimentado e conversado fugazmente durante o Adegga Wine Market onde também tinha provado os vinhos da Quinta das Carrafouchas mas eu ainda não conhecia os seus vinhos da Quinta da Murta.

Assim, quando o Hugo nos convidou para a prova dos vinhos da Quinta da Murta a realizar na Chez Jules - La Charcuterie de Paris no Linhó, tentámos dar lá um salto apesar desse dia já estar um pouco preenchido. Em boa hora o fizemos pois além dos vinhos da Quinta da Murta ficámos a conhecer a Chez Jules que se revelou um verdadeiro tesouro, escondido no Linhó.


Os brancos feitos com Arinto são a bandeira da região de Bucelas e a Quinta da Murta não foge à regra. Estavam a prova 4 vinhos baseados na casta Arinto. Começamos com o Quinta da Murta Branco 2011, um branco jovem bastante competente embora esperasse que se notasse mais a acidez. Na realidade ele até teria essa acidez mas alguma doçura mascarava-a um pouco. Provavelmente, até será melhor assim pois se eu gosto de vinhos com uma acidez exuberante a maioria dos consumidores não será assim. Gostei mais do Quinta da Murta 2009 que se mostrava mais gordo e interessante e ainda com um ótimo potencial de evolução. Mais uma prova do excelente potencial de envelhecimento que os brancos de Bucelas tem. E se estes são vinhos estagiados exclusivamente em inox já o Quinta de Murta Clássico 2009 foi vinificado em barricas novas carvalho francês e americano que lhe deu ainda mais corpo e complexidade sem no entanto o deixar marcado pela madeira. Provou-se ainda o Vale da Murta Tinto 2009, que foi uma boa surpresa pela sua frescura. Frescura esta, que têm sido uma das características que tenho procurado mais nos vinhos tintos recentemente. Apesar da opinião não ter sido consensual entre o grupo que estava a provar, eu gostei bastante do Quinta da Murta Espumante Bruto Super Reserva Branco 2008. A bolha fina e a sua acidez cativaram-me. Já o Quinta da Murta Espumante Rosé Bruto 2011 não me entusiasmou tanto, sendo no entanto um espumante bem feito e capaz de agradar a uma faixa alargada de consumidores por ter um perfil mais informal e descomprometido.


Havia ainda para provar um ensaio do Hugo que tinha tido um percurso um pouco rocambolesco para vir a resultar numa curiosidade interessante. Trata-se de um rosé de 2008 feito com Syrah que começou como parte de um ensaio para a produção de um rosé estagiado em madeira. Acabou por ficar meio esquecido na adega até voltar a ser descoberto. Depois de alguma indecisão no destino a dar-lhe, a intenção é comercializa-lo em garrafas de meio-litro como uma espécie de rosé de sobremesa, como o Diogo lhe chamou. Enquanto escrevia isto andei a matutar sobre este "rosé de sobremesa" e passaram-me pela cabeça conceitos malucos como late harvest rosé, late bottled rosé e garrafeira rosé... Alucinações... Voltando ao que interessa, este rosé apresentava-se um pouco marcado pela barrica de uma maneira que, em maior grau, poderia ser considerado defeito mas que aqui, na justa medida, dava-lhe complexidade e diferenciação. Alguma doçura levava-o para o campo dos vinhos de sobremesa e tornava-o guloso sem no entanto atingir o grau de doçura habitual em vinhos de sobremesa. Acho que vou mesmo de ter de comprar uma garrafa quando for engarrafado...



Sendo a prova feita na Chez Jules foi acompanhada por produtos do estabelecimento: pão, queijo, enchidos e um patê de porco preto feito na casa. A Chez Jules é uma charcutaria que prepara nas próprias instalações produtos de charcutaria segundo as tradições da charcutaria francesa. Aberta há cerca de um ano pela Carla e pelo Xavier, originalmente as preparações feitas eram exclusivamente francesas embora a matéria-prima fosse quase toda local. Atualmente começam a piscar o olho à tradição portuguesa em produtos como o patê de porco preto. Assim é possível encontrar aqui foie grás, patês, saucissons, saucisses, bodins e outros produtos de charcutaria francesa preparados localmente. Um dos produtos que se pode comprar lá são as infames Andouilletes. Feitas com o intestino do porco têm a fama de gerar repulsa entre os não iniciados e devoção entre os apreciadores. Também é possível encomendar foie grás fresco, que em cerca de 48 horas estará cá, vindo de França do fornecedor habitual da casa.




Complementando os produtos de charcutaria, encontram-se aqui também queijos, vinhos, doces, pão, pastelaria e outros produtos criteriosamente selecionados e com predominância pela origem francesa não sendo, no entanto, esta a origem exclusiva. Se isto tudo não fosse suficiente ainda têm entradas e pratos pré-preparados para levar para casa. Um dos pratos que estava a sair do espeto enquanto lá estávamos era um frango assado com um aspeto verdadeiramente divinal... E nem a distancia de Lisboa serve de desculpa pois semanalmente, às sextas-feiras, são feitas entregas ao domicílio gratuitas em toda a Grande Lisboa. Acabámos por aproveitar para trazer um patê de pato com laranja que fez sucesso no jantar de família desse dia. Mas acho que um dia destes ainda tenho de ir buscar um frango assado ao Linhô...

Ingrediente Secreto 2 - www.wook.pt

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