Há coisas no mercado dos vinhos que eu não consigo perceber e este JP Rosé é uma destas singularidades que desafia toda a minha compreensão. A primeira vez que o provei foi há cerca de um ano e meio atrás no Mercado do Sabores do Continente. Seria na altura a edição de 2011. Revelou-se uma surpresa e fiquei com curiosidade em voltar provar com mais calma. Pensando que seria fácil de encontrar rejeitei a oferta do promotor de comprar logo ali umas garrafas. Sendo uma marca amplamente presente nas grandes superfícies e de baixo preço achei que o encontraria em qualquer supermercado.
Mas passou-se quase um ano até conseguir voltar a encontra-lo numa grande superfície no Algarve em tempo de férias. O Algarve é um mercado estranho devido à alta rotação dos vinhos durante os meses de Verão. Parece-me mesmo que no Verão muitas cadeias de supermercados mandam para lá os vinhos que não conseguem vender noutras lojas do resto do país, sendo comum encontrar por lá vinhos que já não se encontram nas grandes superfícies em Lisboa. Mas o JP Rosé até não parece encaixar exactamente nesta situação. A minha melhor hipótese é que este esteja a ser direccionado fundamentalmente para mercados específicos provavelmente com ênfase em mercados externos e associados ao turismo. Outra hipótese é que a quantidades produzidas sejam reduzidas. Comprei uma garrafa para ver se se confirmava a minha primeira impressão. Depois disto já só o voltei a encontrar no final do ano passado no Intermarché de Vendas Novas que se tem vindo a afirmar como uma fonte de algumas preciosidades vínicas. Não me fiz rogado e comprei as 4 ou 5 garrafas que havia na prateleira.
Este vinho produzido pela Bacalhôa Vinhos na Península de Setúbal resulta de um lote muito interessante de Moscatel Roxo, Touriga Nacional e Syrah. O Moscatel Roxo além do seu uso na produção de moscatéis tem vindo a ser usado com ótimos resultados pela José Maria da Fonseca na elaboração do Domingos Soares Franco Colheita Seleccionada Moscatel Roxo Rosé. A Touriga Nacional é considerada uma das melhores castas portuguesas para a produção de rosés devido à combinação da sua riqueza aromática e acidez. E o Syrah é uma das castas internacionais que aparece muito frequentemente na elaboração de rosés. É portanto uma combinação com enorme potencial. Mostra um cor entre o salmão e o rosa e no nariz deixa adivinhar aromas a framboesas. Entra na boca com uma acidez tímida que deixa revelar alguma doçura mas esta primeira impressão é imediatamente acompanhada por um ligeiro vegetal que lhe dá estrutura e sobressaindo então o carácter floral do Moscatel Roxo bem acompanhado pela Touriga Nacional e pelo Syrah. No final de boca a acidez faz-se notar proporcionado um final mais longo do que seria de esperar.
Apesar do vinho português mais vendido em todo mundo até ser um rosé, o Mateus Rosé, o rosé é muito mal amado em Portugal havendo mesmo quem duvide que seja vinho. Apesar deste desamor, custa-me a perceber porquê é que este vinho anda tão escondido ainda por cima tendo uma relação qualidade preço tão boa. É incrível como um rosé de 2€ pode ser tão interessante e dar tanto prazer. Resta-me ir comprando sempre que o vou encontrando, 1 ou 2 vezes por ano.
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