Chuva de Estrelas
Publicada por
Rui Barradas Pereira
em
11.12.16
Há umas semanas, a 17 Novembro, teve lugar a chuva de estrelas Leónidas que é considerada uma das mais interessantes chuvas de estrelas do ano em que se chega a conseguir ver cerca 40 estrelas por hora. Alguns dias depois, por essa altura, acontece um outra chuva de estrelas, que pelo contrário, costuma desapontar apesar de ser sempre aguardada com muita expectativa. É a chamada chuva de estrelas Michelin. O balanço em Portugal costuma ser magro com 2 ou 3 novas estrelas, nos bons anos, o que com alguma generosidade se poderia chamar de aguaceiro ligeiro. Quando já todos tínhamos perdido a esperança de ver algo verdadeiramente singular eis que o céu de Português se iluminou com 9 novas estrelas a juntarem-se às 17 já existentes.
Já há algumas semanas antes que se falava da possibilidade de a edição de 2017 do guia Michelin trazer uma quantidade significativa de estrelas que poderia mesmo chegar à duplicação do número de estrelas. Foram os próprios representantes do guia Michelin para Espanha e Portugal que fizeram esta revelação antecipadamente criando uma expectativa elevada para o anuncio que foi feito ontem. Embora tudo indicasse que a fonte era segura e que seria um ano histórico para a restauração portuguesa eu ainda estava um pouco desconfiado. Depois de tantos anos de expectativas goradas parecia estranho que o acordar dos inspectores Michelin para a realidade da restauração portuguesa acontecesse da uma maneira tão abrupta.
Mas foi isso mesmo que aconteceu e sem que pareça ter existido uma mudança significativa na equipa de inspectores Michelin parece que estes conseguiram encontrar o caminho para mais uns quantos restaurantes em Portugal, talvez à boleia das hordas de turistas que têm vindo conhecer Portugal nos últimos anos. Bem, a verdade é que que quase todos os novos estrelados são restaurantes que abriram ou foram remodelados recentemente, não sendo possível dizer que já poderiam ter tido a estrela antes não sendo por isso ser possível identificar uma mudança concreta critérios de atribuição das estrelas. Talvez tudo isto não passe mesmo de uma conjunção astral e que tenha mais a ver com a coincidência da abertura várias propostas ambiciosas e com um nível claramente alto nos últimos 2 anos do que com alguma mudança do critérios do guia. E se a passagem de 14 para 21 restaurantes estrelados é muito significativa ainda está longe dos mais de 30 que deveríamos ter se compararmos com Espanha.
Mas deixando-me de divagações, são 2 restaurantes que sobem para 2 estrelas e 7 os que conseguem a primeira estrela. Os promovidos as duas estrelas são o The Yeatman e o Il Gallo d'Oro. Acabam por ser compreensíveis estas escolhas pois estes dois restaurantes e os seus chefes deveriam ser aqueles que há mais tempo e da maneira mais consistente exibem uma estrela Michelin em Portugal. Haveria outros 2 candidatos naturais, a Fortaleza do Guincho e o Largo do Paço mas a mudança recente de chef nestes restaurantes poderá ter sido um obstáculo a que isso acontecesse.
Os novos estrelados são: o L'And Vineyards, a Casa de Chá da Boa Nova, o Antiqvvm, o Alma, o Loco, o Lab by Sergi Arola e o William. O L'And Vineyards recupera a estrela e só surpreende por talvez fosse de duvidar de uma recuperação tão rápida. A Casa de Chá da Boa Nova trás um novo chef para as estrelas Michelin sendo que esta nova aposta de Rui Paula já vinha a ser alvitrada como tendo potencial Michelin. O Antiqvvm acaba por não ser uma surpresa pois o facto de contar com o chef Vitor Matos que vinha do Largo do Paço fazia crer na possibilidade de uma estrela. O Alma e o Loco vinham a revelar-se como as novidades mais badaladas em Lisboa e a atribuição de estrelas as estes restaurantes acaba por ser consistente com a sensação que se gerou em volta destes durante o ano de 2016. Se o antigo Arola no Penha Longa nunca pareceu ter merecer a atenção dos inspectores Michelin até porque o conceito pretendia ser um pouco mais informal, o conceito que se materializou no Lab by Sergi Arola e que pretendeu ser uma réplica do Sergi Arola Gastro parece ter garantido esta atenção. Com o fecho do Sergi Arola Gastro que tinha 2 estrelas, esta estrela parece quase uma passagem de testemunho. Finalmente o William do Belmond Reid's Palace no Funchal que almejava a estrela e que para isso veio buscar o Joachim Korper para em consultadoria reposicionar o restaurante com este objectivo.
Assim o que chegou a parecer uma rotura com o passado acaba ser fundamentalmente um reflexo de continuidade em termos dos critérios dos inspectores Michelin sendo que a maioria das novas estrelas vão para chefs que já as tinham ou tiveram e os três projectos que acolheram novos chefs ao clube das estrelas Michelin eram projectos claramente ambiciosos que seria difícil ignorar embora o passado dificilmente me levasse a crer em tal "generosidade" do guia Michelin para com os restaurantes portugueses. Como sempre a questão não está no merecimento de quem ganhou estrelas mas naqueles que as poderiam ter ganho também e não as ganharam... A ver se para o ano esta dinâmica continua e o nosso contingente de restaurante estrelados continua a aproximar-se daquilo que seria justo. Um pormenor curioso é uma transferência de atenção do Algarve para Lisboa e para o Porto. O Algarve que liderou durante muitos anos e sem disputa em numero de estrelas viu-se alcançado por Lisboa e com o Porto por perto. Isto parece ser um reflexo do crescimento no turismo urbano que se tem verificado em Lisboa e Porto que terá criado espaço para propostas mais arrojadas e talvez também por isso garantido um maior escrutínio por parte dos inspectores Michelin.
Este ano tive a oportunidade de visitar 3 dos estrelados em Portugal, o The Yeatman, o Pedro Lemos e o São Gabriel. Num périplo que fiz a meio do ano por Barcelona fiquei ainda a conhecer dois dos representantes do lado espanhol do Guia Michelin Espanha & Portugal: o El Celler de Can Roca que se tornou o primeiro 3 estrelas onde refeiçoei (como diria alguém...) e o hisop, um restaurante com estrela Michelin quase espartano mas muito elegante e competente. São fotografias destes 5 restaurantes que ilustram este artigo.
Como todos os anos além das estrelas, o Guia Michelin atribui ainda a classificação Bib Gourmand a restaurantes que servem refeições de qualidade por um preço moderado. Aqui ficamos a marcar passo com a manutenção dos 35 galardoados por via de duas saídas e duas entradas.
As novidades estão realçadas a amarelo.
Restaurantes Portugueses com Estrelas Michelin em 2017
**
Belcanto - Lisboa - José Avillez
Il Gallo d'Oro (The Cliff Bay) - Funchal - Benoit Sinthon
Vila Joya - Albufeira - Dieter Koschina
The Ocean (Vila Vita Parc) - Armação de Pêra - Hans Neuner
The Yeatman - Gaia - Ricardo Costa
*
Alma - Lisboa - Henrique Sá Pessoa
Antiqvvm - Porto - Vítor Matos
Bon Bon - Carvoeiro - Rui Silvestre
Casa de Chá da Boa Nova - Leça da Palmeira - Rui Paula
Eleven - Lisboa - Joachim Koerper
Feitoria (Altis Belém) - Lisboa - João Rodrigues
Fortaleza do Guincho - Cascais - Miguel Rocha Vieira
Henrique Leis - Almancil - Henrique Leis
Lab by Sergi Arola (Penha Longa) - Sintra - Sergi Arola/Milton Anes
L'And Vineyards - Montemor-o-Novo - Miguel Laffan
Largo do Paço (Casa da Calçada) - Amarante - André Silva
Loco - Lisboa - Alexandre Silva
Pedro Lemos - Porto - Pedro Lemos
São Gabriel - Almancil - Leonel Pereira
William - Funchal - Joachim Koerper/Luís Pestana
Willie's - Quarteira - Willie Wurger
Restaurantes Portugueses Bib Gourmand
3 Pipos - Tonda
A Bolota - Terrugem
Aquário - Lagos
BL Lounge - Évora
Brasa - Macedo de Cavaleiros
Cais da Estação - Sines
Camelo - Viana do Castelo
Carvalho – Chaves
Casa Matos – Salreu
Casinha Velha - Leiria
Centurium – Braga
Cêpa Torta - Alijó
D'Avis – Lisboa
Dom Joaquim – Évora
Dom Sebastião - Lagos
Don Peixe - Alcochete
Dóri - Aveiro
Ferrugem - Vila Nova de Famalicão
Histórico by Papaboa - Guimarães
Machado - Maia
Mário Luso – Carvalhos
Marquês de Marialva – Cantanhede
Muralha da Sé – Viseu
O Alambique - Poço Barreto
O Barrigas – Golegã
O Barro - Redondo
O Malho - Malhou
O Marinheiro - Albufeira
O Parreirinha – Queluz
O Típico - Agueda
Pedra Furada - Pedra Furada
Solar do Forcado - Portalegre
Solar dos Nunes – Lisboa
Trinca Espinhas - Sines
Vila do Peixe - Câmara de Lobos
Já há algumas semanas antes que se falava da possibilidade de a edição de 2017 do guia Michelin trazer uma quantidade significativa de estrelas que poderia mesmo chegar à duplicação do número de estrelas. Foram os próprios representantes do guia Michelin para Espanha e Portugal que fizeram esta revelação antecipadamente criando uma expectativa elevada para o anuncio que foi feito ontem. Embora tudo indicasse que a fonte era segura e que seria um ano histórico para a restauração portuguesa eu ainda estava um pouco desconfiado. Depois de tantos anos de expectativas goradas parecia estranho que o acordar dos inspectores Michelin para a realidade da restauração portuguesa acontecesse da uma maneira tão abrupta.
Mas foi isso mesmo que aconteceu e sem que pareça ter existido uma mudança significativa na equipa de inspectores Michelin parece que estes conseguiram encontrar o caminho para mais uns quantos restaurantes em Portugal, talvez à boleia das hordas de turistas que têm vindo conhecer Portugal nos últimos anos. Bem, a verdade é que que quase todos os novos estrelados são restaurantes que abriram ou foram remodelados recentemente, não sendo possível dizer que já poderiam ter tido a estrela antes não sendo por isso ser possível identificar uma mudança concreta critérios de atribuição das estrelas. Talvez tudo isto não passe mesmo de uma conjunção astral e que tenha mais a ver com a coincidência da abertura várias propostas ambiciosas e com um nível claramente alto nos últimos 2 anos do que com alguma mudança do critérios do guia. E se a passagem de 14 para 21 restaurantes estrelados é muito significativa ainda está longe dos mais de 30 que deveríamos ter se compararmos com Espanha.
Mas deixando-me de divagações, são 2 restaurantes que sobem para 2 estrelas e 7 os que conseguem a primeira estrela. Os promovidos as duas estrelas são o The Yeatman e o Il Gallo d'Oro. Acabam por ser compreensíveis estas escolhas pois estes dois restaurantes e os seus chefes deveriam ser aqueles que há mais tempo e da maneira mais consistente exibem uma estrela Michelin em Portugal. Haveria outros 2 candidatos naturais, a Fortaleza do Guincho e o Largo do Paço mas a mudança recente de chef nestes restaurantes poderá ter sido um obstáculo a que isso acontecesse.
Os novos estrelados são: o L'And Vineyards, a Casa de Chá da Boa Nova, o Antiqvvm, o Alma, o Loco, o Lab by Sergi Arola e o William. O L'And Vineyards recupera a estrela e só surpreende por talvez fosse de duvidar de uma recuperação tão rápida. A Casa de Chá da Boa Nova trás um novo chef para as estrelas Michelin sendo que esta nova aposta de Rui Paula já vinha a ser alvitrada como tendo potencial Michelin. O Antiqvvm acaba por não ser uma surpresa pois o facto de contar com o chef Vitor Matos que vinha do Largo do Paço fazia crer na possibilidade de uma estrela. O Alma e o Loco vinham a revelar-se como as novidades mais badaladas em Lisboa e a atribuição de estrelas as estes restaurantes acaba por ser consistente com a sensação que se gerou em volta destes durante o ano de 2016. Se o antigo Arola no Penha Longa nunca pareceu ter merecer a atenção dos inspectores Michelin até porque o conceito pretendia ser um pouco mais informal, o conceito que se materializou no Lab by Sergi Arola e que pretendeu ser uma réplica do Sergi Arola Gastro parece ter garantido esta atenção. Com o fecho do Sergi Arola Gastro que tinha 2 estrelas, esta estrela parece quase uma passagem de testemunho. Finalmente o William do Belmond Reid's Palace no Funchal que almejava a estrela e que para isso veio buscar o Joachim Korper para em consultadoria reposicionar o restaurante com este objectivo.
Assim o que chegou a parecer uma rotura com o passado acaba ser fundamentalmente um reflexo de continuidade em termos dos critérios dos inspectores Michelin sendo que a maioria das novas estrelas vão para chefs que já as tinham ou tiveram e os três projectos que acolheram novos chefs ao clube das estrelas Michelin eram projectos claramente ambiciosos que seria difícil ignorar embora o passado dificilmente me levasse a crer em tal "generosidade" do guia Michelin para com os restaurantes portugueses. Como sempre a questão não está no merecimento de quem ganhou estrelas mas naqueles que as poderiam ter ganho também e não as ganharam... A ver se para o ano esta dinâmica continua e o nosso contingente de restaurante estrelados continua a aproximar-se daquilo que seria justo. Um pormenor curioso é uma transferência de atenção do Algarve para Lisboa e para o Porto. O Algarve que liderou durante muitos anos e sem disputa em numero de estrelas viu-se alcançado por Lisboa e com o Porto por perto. Isto parece ser um reflexo do crescimento no turismo urbano que se tem verificado em Lisboa e Porto que terá criado espaço para propostas mais arrojadas e talvez também por isso garantido um maior escrutínio por parte dos inspectores Michelin.
Este ano tive a oportunidade de visitar 3 dos estrelados em Portugal, o The Yeatman, o Pedro Lemos e o São Gabriel. Num périplo que fiz a meio do ano por Barcelona fiquei ainda a conhecer dois dos representantes do lado espanhol do Guia Michelin Espanha & Portugal: o El Celler de Can Roca que se tornou o primeiro 3 estrelas onde refeiçoei (como diria alguém...) e o hisop, um restaurante com estrela Michelin quase espartano mas muito elegante e competente. São fotografias destes 5 restaurantes que ilustram este artigo.
Como todos os anos além das estrelas, o Guia Michelin atribui ainda a classificação Bib Gourmand a restaurantes que servem refeições de qualidade por um preço moderado. Aqui ficamos a marcar passo com a manutenção dos 35 galardoados por via de duas saídas e duas entradas.
As novidades estão realçadas a amarelo.
Restaurantes Portugueses com Estrelas Michelin em 2017
**
Belcanto - Lisboa - José Avillez
Il Gallo d'Oro (The Cliff Bay) - Funchal - Benoit Sinthon
Vila Joya - Albufeira - Dieter Koschina
The Ocean (Vila Vita Parc) - Armação de Pêra - Hans Neuner
The Yeatman - Gaia - Ricardo Costa
*
Alma - Lisboa - Henrique Sá Pessoa
Antiqvvm - Porto - Vítor Matos
Bon Bon - Carvoeiro - Rui Silvestre
Casa de Chá da Boa Nova - Leça da Palmeira - Rui Paula
Eleven - Lisboa - Joachim Koerper
Feitoria (Altis Belém) - Lisboa - João Rodrigues
Fortaleza do Guincho - Cascais - Miguel Rocha Vieira
Henrique Leis - Almancil - Henrique Leis
Lab by Sergi Arola (Penha Longa) - Sintra - Sergi Arola/Milton Anes
L'And Vineyards - Montemor-o-Novo - Miguel Laffan
Largo do Paço (Casa da Calçada) - Amarante - André Silva
Loco - Lisboa - Alexandre Silva
Pedro Lemos - Porto - Pedro Lemos
São Gabriel - Almancil - Leonel Pereira
William - Funchal - Joachim Koerper/Luís Pestana
Willie's - Quarteira - Willie Wurger
Restaurantes Portugueses Bib Gourmand
3 Pipos - Tonda
A Bolota - Terrugem
Aquário - Lagos
BL Lounge - Évora
Brasa - Macedo de Cavaleiros
Cais da Estação - Sines
Camelo - Viana do Castelo
Carvalho – Chaves
Casa Matos – Salreu
Casinha Velha - Leiria
Centurium – Braga
Cêpa Torta - Alijó
D'Avis – Lisboa
Dom Joaquim – Évora
Dom Sebastião - Lagos
Don Peixe - Alcochete
Dóri - Aveiro
Ferrugem - Vila Nova de Famalicão
Histórico by Papaboa - Guimarães
Machado - Maia
Mário Luso – Carvalhos
Marquês de Marialva – Cantanhede
Muralha da Sé – Viseu
O Alambique - Poço Barreto
O Barrigas – Golegã
O Barro - Redondo
O Malho - Malhou
O Marinheiro - Albufeira
O Parreirinha – Queluz
O Típico - Agueda
Pedra Furada - Pedra Furada
Solar do Forcado - Portalegre
Solar dos Nunes – Lisboa
Trinca Espinhas - Sines
Vila do Peixe - Câmara de Lobos
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