O enoturismo é visto de uma forma integrada com o resto do negócio e na Quinta do Gradil além um leque alargado de experiências disponíveis sob marcação prévia, o restaurante instalado no antigo celeiro da propriedade está aberto ao público de Quarta a Segunda ao almoço e Sexta e Sábado ao jantar. Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga herdade do Cadaval, teve como um dos seus mais ilustres proprietários o Marquês de Pombal, que passava ali o Verão com a família. Já nessa altura teria vinha e essa terá sido uma das razões determinantes para sua aquisição pelo Marquês de Pombal. Quando a família Vieira adquiriu a Quinta do Gradil, na génese da Parras em 1999, já o Palácio era uma carcaça constituída quase somente pelas suas paredes exteriores fruto de um incêndio que consumiu o seu interior. A reabilitação do Palácio e da Capela anexa é um dos próximos projectos para a Quinta do Gradil estando à espera de disponibilidade financeira para a sua execução. Esta reabilitação deverá dinamizar ainda mais a oferta enoturística da Quinta do Gradil.
Em Dezembro tive a oportunidade de visitar a Quinta do Gradil para a apresentação das mais recentes colheitas da quinta, apresentação do novo chef, Daniel Sequeira, e da nova carta do restaurante da quinta. Fomos recebidos pelo administrador Luís Vieira e pelo enólogo António Ventura e após uma visita à vinha provámos os vinhos e alguns dos pratos da nova carta ao restaurante.
Começámos com uma belíssima tábua de queijos e ótimos enchidos que foram acompanhados pelo Quinta do Gradil Sauvignon Blanc Arinto 2014. Mostrou-se dourado brilhante ligeiramente esverdeado com aromas cítricos, ligeiras flores brancas e espargos com algum iodado a lembrar a presença do Sauvignon Blanc. Boa acidez e com o vegetal do Sauvignon Blanc a notar-se bem na boca embora esteja bem domado pelo Arinto. Longo, longo na boca. Um branco cheio de frescura com complexidade quanto baste.
Seguimos com a Mini Alheira de Caça em Cama de Grelos, um prato a explorar de uma maneira elegante aquele que é um dos clichés mais amados da gastronomia popular portuguesa, a alheira e o ovo estrelado, aqui com tudo em versão mini e com os grelos a cortarem a gordura com o seu amargor. Como senão, o facto de a pele da alheira ser de difícil abordagem devido a não cortar facilmente. Penso que o prato ganharia se se encontrasse uma solução para isto embora eu não esteja a ver nenhuma solução fácil ou óbvia, pois servir a alheira sem pele iria provavelmente prejudicar o empratamento em termos de estéticos. Já o Quinta do Gradil Chardonnay 2014 mostrou-se um dourado mais carregado também ligeiramente esverdeado com alguns aromas cítricos num conjunto com um carácter mineral. Acidez ligeira e alguma untuosidade a mostrar-se na boca. Promete mas parecia-me beneficiar de mais algum tempo em garrafa.
Como prato de peixe tivemos o Lombo de Bacalhau com Crosta de Farinheira ao qual a crosta de farinheira dava um toque muito interessante. Bem pensado estava estava também o puré de grão que acompanhava o prato embora me parecesse puder beneficiar de alguma acidez que lhe desse um pouco de frescura e leveza. O ponto de cozedura do bacalhau era aquele que é habitual e esperado na maioria dos restaurantes em Portugal. Já saberão que para mim isso quer dizer que estava um pouco para lá do ponto que considero ótimo. O Quinta do Gradil Reserva Branco 2013 revelou-se amarelo ligeiramente esverdeado trazendo ao nariz alguns aromas cítricos também num conjunto de carácter mineral. Mostrou boa acidez e alguma untuosidade. Também acho que beneficiaria de mais algum tempo em garrafa. Passadas algumas semanas tive a oportunidade de provar o seu irmão mais novo, o Quinta do Gradil Reserva Branco 2014 que se mostrou amarelo claro ligeiramente esverdeado com aromas a flores brancas e um ligeiro mel. Na boca mostrava boa acidez e um ligeiro vegetal. Inicialmente pareceu-me um pouco marcado pela madeira mas numa segunda prova que fiz no dia seguinte à abertura da garrafa isso desvaneceu-se ficando um corpo bem interessante bem contrabalançado pela acidez. Parece ter boa capacidade de evolução.
Na carne tivemos o Lombinho de Porco Preto com Esmagada de Castanha, bem conseguido em termos de sabor com a erva doce da esmagada de castanha a funcionar muito bem e a remeter-nos para os sabores clássicos das castanhas cozidas. Mais uma vez achei que o lombinho teria beneficiado se não estivesse tão passado. Agora já com um tinto, tivemos a acompanhar o Quinta do Gradil Syrah 2013 que se mostrou entre o granada e o violeta ligeiramente translucido e aromas a frutos vermelhos e um ligeiro cacau. Mostra boa acidez, acompanhada por taninos finos e elegantes mas ainda assim muito aveludado revelando-se muito guloso na boca. Posteriormente tive a oportunidade de provar o Quinta do Gradil Reserva Tinto 2010 que se mostrou granada com laivos violeta com aromas químicos e balsâmicos integrados num perfil mineral. Na boca mostrou taninos finos quase elegantes e uma acidez ligeira constituindo um vinho interessante que deverá poder ganhar com o tempo.
Como sobremesa tivemos o Requeijão com Doce de Abóbora e Frutos Secos, uma sobremesa que teria tudo para correr bem e que cumpriu para quase todos na mesa mas que a mim deixou sentimentos contraditórios... Juntar massa folhada e frutos secos à clássica combinação de doce de abóbora e requeijão tinha tudo para dar certo mas eu não consegui ultrapassar o facto de ao se por o requeijão dentro da massa folhada e leva-lo ao forno ter-se perdido a frescura e leveza do requeijão ficando este um pouco enborrachado e menos interessante. A sobremesa foi acompanhada pelo Quinta do Gradil Espumante Brut Nature 2013 que se mostrou amarelo ligeiramente esverdeado com um ligeira tosta no nariz e algum cítrico. Fresco e cítrico na boca revelou um espumante descomplicado mas muito interessante.
No final da refeição ainda houve tempo para a belíssima Quinta do Gradil Aguardente Vínica XO.
O chef Daniel Sequeira mostrou uma boa capacidade para pegar em pratos bem conhecidos e combinações seguras e dar-lhes uma volta tornado-as novas mas ainda assim cheias de referencias reconhecíveis. Parece-me uma boa abordagem para um restaurante como este em que uma aproximação mais radical poderia não resultar. Pratos bem conseguidos em termos de sabor faltando para mim dar mais alguma atenção a alguns pormenores como os pontos de cozedura das proteínas.
Estes vinhos da Quinta do Gradil mostram aquilo que já era a minha impressão, vinhos muito bem conseguidos já a apelar a públicos mais exigentes mantendo um boa relação qualidade preço. Os brancos a destacarem-se mais embora alguns ainda a precisarem de algum tempo em garrafa. Não sendo o que considerei o melhor achei especialmente interessante o Quinta do Gradil Sauvignon Blanc Arinto 2014 que altem uma relação qualidade-preço muito boa.
Já no inicio de 2016 a Quinta do Gradil viria a ser distinguida como Empresa do Ano pela Revista de Vinhos ex-aequo com a Adega Mãe, curiosamente outra empresa que também tem como base a região de Lisboa. A região de Lisboa mostra assim um grande potencial para explorações vinícolas de grande dimensão em sintonia alias com o seu reconhecido potencial agro-industrial. A Quinta do Gradil mostra que é possível produzir em volume virado para a grande distribuição numa ótica de relação qualidade-preço sem descurar a paixão posta nos pequenos lotes com o objetivo de atingir públicos mais restritos.
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