O BPI Wine & Food é um novo evento enogastronómico organizado pelo Cofina em parceria com o BPI e que se realizou no último fim de semana de Abril no Pateo da Galé. A ambição é que se torne num evento incontornável da Primavera lisboeta com um programa cheio de provas, workshops e showcookings num ambiente informal.
Outro objectivo da organização é que se torne uma tradição a realização de um jantar a antecipar o evento em que se provem alguns dos melhores vinhos portugueses e se este ano éramos cerca de três dezenas, a intenção é que venham a ter uma participação mais alargada e que venham a deixar marcas em quem neles participam.
Os vinhos deste jantar foram escolhidos pelo Fernando Melo e a acompanhados por um menú de três pratos da responsabilidade do chef da Pousada Lisboa e do Restaurante Lisboeta, Tiago Bonito. Não se poderá falar aqui de uma harmonização mas de uma prova acompanhada por jantar, pois se tínhamos 3 pratos os vinhos eram 9 dispostos numa organização táctica 2x5x2. Quando se tem 5 vinhos para 1 prato falar de harmonização acaba por ser um pouco abuso de linguagem.
Agarrem-se bem que a viagem não vai ser fácil...
Num alinhamento de 9 vinhos épico como verão que foi este não seria espectável que tivesse provado recentemente dois destes vinhos. Mas foi isso mesmo que aconteceu e o primeiro vinho foi um destes dois, o Frei João Branco 1974 que tinha provado nas Caves de São João por ocasião de uma visita que fiz em Novembro do ano passado. Não é todos os dias que provamos um vinho da nossa idade e ainda mais um branco memorável. Gostei um pouco mais desta garrafa que daquela que provei em Novembro, amarelo dourado claro, ninguém diria que pela cor que tem esta idade, mais contido aromaticamente, mineral e com ligeiras flores brancas, esta garrafa pautava-se por uma acidez vibrante que muitos brancos com um décimo da idade já não têm. Revelava uma untuosidade ligeira e uma extrema elegância. Na garrafa que provei em Novembro a acidez não era tão exuberante e tinha um pouco mais de estrutura na boca por via da untuosidade e também de algum vegetal. Simultaneamente tínhamos o Dona Paterna 1998, com perfil diferente, também amarelo dourado mas mais escuro e com um nariz algo amadeirado e um pouco fechado de aromas. Boa acidez sem ser exuberante e com um perfil um pouco mais oxidado e afunilado sem deixar por isso de ser um grande vinho a encher a boca por via da untuosidade.
Foram acompanhados por um Creme de Cogumelos, Nata Fresca e Cerefólio. Um prato bem conseguido por si embora um pouco dessintonizado dos vinhos que pediriam talvez um prato com um peixe com alguma gordura.
Prosseguimos para os tintos que foram servidos em três tempos num alinhamento 2x2x1. Começamos com o Quinta do Mouro 1995 e o com o Quinta das Bageiras Garrafeira 1995. O Quinta do Mouro 1995 mostrava-se acobreado e algo turvo com algum animal e um ligeiro verniz no nariz. Melhor na boca em que se mostrava com boa acidez, muito fresco. Seguiu-se o Quinta das Bageiras Garrafeira 1995 que também já tinha provado há uns meses atrás no mesmo dia em que tinha provado o Frei João Branco 1974. Apresentava-se ruby com laivos acobreados e com algum químico e mineral no nariz. Boa acidez, fresco e seco e a perdurar longamente na boca ainda a mostrar juventude. Embora tenha gostado desta garrafa gostei ainda mais da que tinha provado há uns meses. Não sei se não terá sido de a ter provado na adega com o produtor mas mostrava-se um pouco mais balsâmico no nariz e com os taninos finos e elegantes um pouco mais presentes e a mostrar ainda maior capacidade de envelhecimento.
No segundo tempo deste andamento foram servidos o Quinta do Ribeirinho 1996 e o... Barca Velha 1966. O Quinta do Ribeirinho 1996 proveniente de uma vinha bairradina pré-filoxerica mostrava-se acobreado e com um perfil mineral no nariz acompanhado por um ligeiro balsâmico e floral. Na boca mostrava boa acidez num corpo pouco encorpado mas muito elegante. O Barca Velha 1966 do qual foram servidas duas magnums com um perfil um pouco diferente. A que provei durante a refeição mostrava-se em tons de chocolate com laivos acobreados quase opaco, no nariz, quiçá por sugestão, também aparecia o chocolate e o cacau. Acidez ligeira e uma grande elegância. Já teria passado o seu ponto alto mas continuava um portento. No final da refeição tendo sido avisado que as garrafas estavam um pouco diferente provei um pouco da outra garrafa que no nariz estava mais balsâmica e se mostrava mais fresca e mais viva. Se era claro que a que provei primeiro teria sofrido mais durante a sua vida e por isso estava mais evoluída, para mim não era completamente claro que por isso estivesse pior embora isso não fosse nada consensual entre os que provaram as duas garrafas.
O último dos tintos era outro dos vinhos que nos deixava em antecipação desde o inicio do jantar, o Mouchão 1963. O Mouchão 1963 mostrava-se acobreado translúcido levando ao nariz notas balsâmicas e um ligeiro animal. Na boca mostrava boa acidez, muito fresco e ainda com muito tempo para evoluir. Achei-o um pouco abaixo do Barca Velha mas com uma surpreendente frescura para os seus vetustos 53 anos de idade a desmentir o preconceito que dita pouca longevidade para os vinhos alentejanos.
Os cinco tintos foram acompanhados por um Supremo de Pintada, Queijo Brie, Risotto de Cogumelos, Limão Confit e Molho de Pimenta Fresca. Estes vinhos pediriam talvez uma carne vermelha mas o risotto de cogumelos acabava por dar ao prato a estrutura necessária para acompanhar estes vinhos. Pintada num bom ponto de cozedura, sem cair para a secura que é muito comum neste tipo de carnes. Muito interessante a frescura com um toque limonado emprestada pelos legumes que acompanhavam a pintada em contraponto com a estrutura do risotto de cogumelos. Acabou por conseguir cumprir bem a função de acompanhar estes vinhos.
Terminamos esta refeição épica com dois generosos de antologia, o Fonseca Vintage 1994 e o D'Oliveiras Boal 1908. O Fonseca Vintage 1994 é um vintage lendário da Fonseca que recebeu 100 pontos da Wine Spectator em 1997 e que foi descrito por James Suckling com sendo comparável a outros vintages lendários da Fonseca como o 1997 e o 1948. Mostrou-se ruby com ligeiros laivos violeta e no nariz dominavam os frutos vermelhos com ênfase para as framboesas. Boa acidez, balsâmico na boca tendo como nota principal a sua impressionante frescura. A poucos metros do local onde aconteceu o regicídio prova-se um vinho feito com uvas nascidas nesse mesmo ano a meio do atlântico, um vinho com quase 108 anos, o D'Oliveiras Boal 1908. Mostrava-se castanho com uma aureola esverdeada como só vinhos muito velhos conseguem ter, enquanto no nariz revelava melaço e café complementados por um ligeiro perfume floral. Na boca a principal nota é a acidez vibrante a perdurar longamente na boca.
Estes últimos 2 vinhos foram acompanhados pelo Parfait de Mascarpone, Framboesa e Lima que sendo uma sobremesa interessante acabava passar um pouco despercebida dada a pujança destes dois vinhos.
Passei brevemente pelo Pateo da Galé onde não tendo tido a oportunidade de participar em nenhuma das actividades fiquei com uma muito boa impressão das provas, masterclasses e showcookings realizados e tivesse eu mais tempo disponível e teria sido bem gasto por ali. A Cofina Eventos tem vindo a afirmar-se na realização de eventos e depois deste BPI Wine & Food está agora a preparar a 2ª edição do Alvarinho Wine Fest que levará o vinho de volta ao Pateo da Galé nos dias 3, 4 e 5 de Junho com um programa que certamente entusiasmará os apreciadores dos Alvarinhos de Monção e Melgaço.
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