Já foi há mais de 6 meses que voltei à cozinha do Cyril. A primeira vez que lá estive, faz já 4 anos numa noite épica em que acabei por não conhecer o Cyril mas somente o seu trabalho. Retrospectivamente vejo que nesse dia se tivesse que escolher um prato que me desse a conhecer o Cyril teria de ser a Bouillabaisse com Vieira e Pargo. Passei por lá mais uma vez mas só acabei por conhecer pessoalmente o Cyril passados 3 anos de conhecer a sua comida. Foi também num dia especial em que em modo petisqueiro comemos com a qualidade de restaurante de hotel de 5 estrelas os pratos que comeríamos numa das nossas tascas preferidas. Diferentes e cheios de novidade mas a dar o mesmo prazer visceral.
Neste regresso à cozinha do Cyril o chef convidou-nos para experimentarmos a carta do Outono que passou no Ipsylon. Ingratamente o tempo e a oportunidade não me permitiu deixar aqui por escrito o registo dessa noite. Se lerem isto no Sábado em que escrevo deverei estar com ele desta vez por outros territórios que há muito queria conhecer. Vou estar com ele e com mais umas quantas pessoas de quem gosto muito e que nestes anos que passam me têm proporcionado muitos momentos de prazer. Gente um bocado doida mas eu destoaria um pouco se eles não o fossem também. Pessoas como o Joe e o Joaquim.
Mas voltando ao que me trás por aqui hoje, mais uma vez foi uma noite épica e se provavelmente já não terão estes pratos na carta do Ipsylon poderão ainda assim penitenciarem-se por não terem lá ido prova-los. Como penitencia podem sempre lá ir comer o que quer que estiver na carta que certamente não desiludirá. Eu nunca saí desiludido do Ipsylon e dos The Oitavos e estou certo que da próxima vez também tal não acontecerá. Fica aqui o registo.
O Folar Transmontano, Manteiga de Ovelha com sabores muito autênticos a fazer lembrar os folares tradicionais num formato cheio de delicadeza.
A Tarte Crocante de Tomate e Língua Escarlate, Vinagreta de Gengibre, muito bem conseguido com a anchova pouco salgada e ao meu gosto bem acompanhada pela língua, o crocante do mil-folhas a dar estrutura ao prato na boca e a acidez do tomate a prolongar os sabores na boca.
A Vieira, Nozes e Castanhas, Cebolinho, Molho de Cidra com a vieira num ponto abaixo do habitual mas que se revelou ótimo com o "toping" das nozes, castanhas e cebolinho dá-lhe textura e sabor e a resulta muito bem. O molho de cidra é de acabar à colher.
A Garoupa da Pedra, Creme de Potimarron e Açafrão com Mexilhões num conjunto a resultar muito bem com destaque para os mexilhões que estavam bastante tenros e saborosos.
O Rocaz, Gnochis de Butternut, Esparregado de Acelgas, Guisadas Ramas á la Créme com Berbigões também com o conjunto a resultar em termos de sabor embora talvez precisasse de um pouco mais de textura. Interessante a amargura das ramas embora não me pareça completamente consensual.
O Guisado de Rabo de Boi, Massa Fresca de Milho, Cogumelos com a carne muito saborosa num prato cheio de sabor e conforto. Muito bem conseguido com as pipocas a dar-lhe um toque de irreverencia.
A Lebre Cozinhada Lentamente, Puré de Barata, Emulsão de Hibiscus com Citronella e Malagueta cheia de sabores muito intensos. É um prato de amor/ódio e será amado por quem gostar de lebre e detestado por quem não goste.
O Magret de Pato Fumado à Portuguesa, Tourte de Boletus com Figos e Foie Grás também com sabores muito intensos. Pato, figo, foie grás... Fiquei por ali a namorar por entre estes três ingredientes...
E os Queijos e Sobremesas com destaque para o Biscuit Macaron, a Banana Caramelizada e Sorvete Tanjerina e do Chocolate Merengue e Gelado. Mas não era nada fácil escolher entre o que por ali tínhamos.
Como já escrevi por aqui não consigo compreender as razões que levam o Ipsylon e a cozinha do Cyril Devilliers a merecer o desconhecimento a que é votado pela comunicação gastronómica portuguesa. Não é certamente por falta de qualidade. Mas enfim, ficam a ganhar os hospedes do The Oitavos e eu e mais uns quantos que conhecemos este segredo que nem queria que estivesse tão bem guardado...
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