Adegga Wine Market 2012

Pois é, eu sei, já devia ter escrito isto há mais tempo atrás. O Adegga Wine Market já foi há mais de um mês e já toda a gente escreveu sobre ele. Houve mesmo outros que por menos atraso em escrever sobre este evento foram crucificados na praça pública. Mas eu não queria deixar de deixar por aqui as minhas impressões dessa tarde.

O Adegga Wine Market surgiu em 2009 como uma espécie de spin-off da rede social Adegga e têm vindo a proporcionar um contacto muito próximo com produtores selecionados pela organização num ambiente mais informal que outros eventos. Em 2012 contou com duas edições tendo-se realizado o Adegga Summer Wine Market em Junho. Até 2011 realizava-se no Teatro Aberto e a partir de 2012 começou a realizar-se no Hotel Flórida.

Além da seleção de produtores, outros dois aspetos logísticos distintivos têm vindo a ser destacados no Adegga Wine Market: os copos usados e a disposição das mesas dos produtores na sala. O copo distribuído é um Riedel Restaurant Syrah/Shiraz com um corpo bem maior que os copos que estão a ser usados na maioria dos eventos. É reputado como sendo o melhor copo dos eventos de vinhos realizados em Portugal. Eu confesso que tenho uma opinião algo dissonante. Não tenho dúvidas que o copo é muito bom e impressiona qualquer um, mas sendo um copo mais vocacionado para tintos acaba por ser menos versátil que outros copos mais pequenos pois num evento destes também haverá vinhos generosos e brancos além dos tintos. Mas certamente a verdadeira razão para eu não ser um entusiasta fervoroso destes copos é o facto de por 2 mm estes não caberem na prateleira do armário da cozinha onde guardo os copos... Têm ganho com isto o Duarte e Ana que têm ficado com os copos que temos trazido das várias edições do evento.

O facto de as mesas de apoio estarem encostadas à parede e os produtores se encontrarem junto as estas e não atrás destas, têm sido visto como uma maneira de proporcionar um contacto mais próximo entre os produtores e os visitantes. Eu pessoalmente acho que a grande vantagem deste arranjo é proporcionar mais espaço de circulação aos visitantes tornando o espaço mais confortável. Uma inovação que já vinha da edição de Verão, que foi a única que não visitei, foi a existência comida. A inexistência de comida era um ponto menos positivo de edições anteriores do evento que foi assim corrigido.

O Adegga Wine Market é evento muito acarinhado pela comunidade dos bloggers de vinhos portugueses. Isso será óbvio quando contarem o número de referências a outros bloggers que vou fazer aqui. Aproveitei para cumprimentar e conhecer pessoalmente alguns dos outros habitantes do Planeta Vínico que só conhecia virtualmente. Como o Carlos Janeiro do Comer, Beber e Lazer, o Diogo Rodrigues do airdiogo num copo e o Hugo Mendes do The Wine Aprentice. O Nuno e a Ema do Magna Casta estavam a ajudar na organização do evento, enquanto o Ricardo também da Magna Casta nos deixava a salivar com a sua descrição do Niepoort VV que tinha provado na Sala Premium. O Jorge do Jójójoli também estava a ajudar a organização como uma espécie de repórter fotográfico.

Este ano, eu e Ana, optamos por não ir à Sala Premium, ao contrário do ano passado, embora a lista de vinhos em prova fosse ainda mais impressionante. Por gentileza do André Ribeirinho, um dos mentores da Adegga, entrámos no horário profissional para os quais o evento abria portas uma hora mais cedo do que para o público em geral. Isso permitiu-nos conversar mais descontraidamente com alguns dos produtores embora o espaço nunca tivesse estado demasiado cheio ao ponto de se tornar desconfortável.

Estivemos um pouco à conversa com o João Rico que estava na mesa da Niepoort embora tivéssemos acabado por falar mais dos vinhos do Hotel do Buçaco que a Niepoort Projectos está a atualmente distribuir do que propriamente dos vinhos que estavam a prova. Passamos também pela banca do Esporão onde estava como é habitual a Teresa Gomes. A banca do Esporão é sempre tão concorrida que está terá sido a primeira oportunidade que tivemos para provar com calma as novidades do ano do Esporão. Como sempre havia coisas muito interessantes. Gostei especialmente do Esporão AB Alicante Bouschet 2009.

Foi entusiasmante ouvir o António Maria sobre o vinho que produz na Quinta das Carrafouchas e cujo enólogo é o Hugo Mendes. Não tendo muitos vinhos para dar a provar trouxe uma especie de duas mini-verticais em branco e tinto incluindo amostras por engarrafar. Vinhos que mostravam um potencial de evolução muito interessante e como nos dizia o António Maria: "Eu tenho tempo"... O Raya Tinto é o único vinho produzido pela Horta de Gonçalpares e estava a prova uma vertical de 4 anos do vinho (2006 a 2009). Eu andava um pouco desavindo com este vinho pois tinha-o provado na primeira edição do Adegga Wine Market e este não me tinha entusiasmado por aí além. Seria ser o Raya 2006? Provavelmente, não me recordo. Mas por juventude, alguma característica anormal da garrafa provada ou por defeito meu, na altura não me agradou. Nesta prova os vinhos mostraram-se bastante elegantes e com potencial de evolução e reconciliei-me com o Raya. Fiquei mesmo um pouco triste quando soube que só existiriam umas dezenas de garrafas do 2006 que me pareceu ainda capaz de evoluir por largos anos.

Depois de nas minhas férias de Verão não ter conseguido provar como deve de ser os vinhos do Barranco Longo tive aqui a oportunidade de colmatar esta falha. Nos brancos gostei do Barranco Longo Grande Escolha 2010 e do Remexido, gostei mais do rosé "unoaked" do que o Oaked e nos tintos gostei do Barranco Longo Reserva Alicante Bouschet 2008.

Depois destes e de outros que para os quais não haveria espaço aqui para falar, terminamos com uma vertical de Porto Vintage do Portal que nos foi apresentada pelo Paulo Coutinho. Provamos os 2007, 2003, 2000, 1999, 1997 e 1995. Até ao 1999 apresentavam um perfil mais jovem e a partir daí notava-se uma mudança de perfil. Quando já pensava ter terminado a vertical perguntei se o vinho que estava a provar (o 1995) era o último e o Paulo Coutinho abanou a cabeça em sinal negativo e serviu-me um último vinho de um garrafa não rotulada. Intensamente jovem, imensamente divertido com um toque de bubble-gum, quase apetecia soprar para fazer um balão. O quer que fosse tinha de ser jovem e pecaminoso. E era... Era uma amostra de casco do Vintage 2012. Como o Paulo Coutinho dizia era quase um crime deixa-lo envelhecer... Era giro que fossem postas umas garrafas destas no mercado mas como o Paulo me relembrou não existe qualquer enquadramento legal para a comercialização de um vinho como este por não respeitar as regras de estágio minimo do Vinho do Porto. É pena...

E assim fechámos em grande o Adega Wine Market 2012. Não deixa de ser curioso que se no ano passado o meu grande destaque tenha ido para o vinho mais velho que alguma vez provei, o Ferreira Porto Vintage 1863, desta vez acabo por dar destaque a um dos mais novos que provei.

As edições do Adegga Wine Market para 2013 já estão marcadas para 29 de Junho e 7 de Dezembro e 2013 será também o ano da internacionalização deste evento estando previstas duas edições fora de Portugal, na Bélgica e na Suiça. O Adega Wine Market já ganhou claramente o seu espaço próprio no panorama dos eventos vínicos em Portugal. Depois de ter estado em todas as edições de Inverno, certamente voltarei pois este é um evento em que corremos o sério risco de ser surpreendidos...