Há já alguns meses decorreu na Cervejaria Ramiro a apresentação dos primeiros vinhos de 2014 da Covela, a saber o Avesso, o Arinto e o Rosé. Foi possível ainda revisitar o Covela Avesso 2013 e o Covela Reserva Branco 2012. O Covela Escolha Branco 2014, que em 2013 foi lançado na mesma altura que estes vinhos e apresentado juntamente com eles no Café Lisboa, só será lançado depois do Verão o que me parece uma opção interessante embora com algum risco dada preferência do mercado por vinhos brancos do próprio ano.
Eu tenho um carinho especial pela casta Avesso pois apesar de não aparecer muito frequentemente a solo deparei-me desde há alguns anos com uns exemplares muito interessantes desta casta e tenho sempre curiosidade de provar novos vinhos desta casta. O Avesso tem sido também uma forte aposta da Covela e este deverá ser mesmo o melhor extreme de Avesso atualmente no mercado. Tivemos a oportunidade provar também o Covela Avesso 2013 servido em magnum que se mostrava amarelo dourado claro com a aromas a fermento, feno, alguma tosta e flores brancas. Com uma acidez falsamente ligeira que cresce na boca e o prolonga juntamente com alguma untuosidade. Parece estar ainda em crescimento apesar que já não dever haver muito no mercado para comprar. O Covela Avesso 2014 que visualmente apresentava um registo semelhante ao 2013 mas no nariz mostrava um perfil muito tropical e exuberante com uma ligeira banana acompanhada por algum floral e um ligeiro rebuçado. Na boca a acidez não é exuberante mas mostra já algum corpo e untuosidade que deixa antever uma boa capacidade evolução. Na altura que o provei mostrava muita juventude que por esta altura já se deve ter atenuado.
O Arinto não é muito associado ao Vinho Verde mas isso deve-se ao também ao facto de por lá ser mais conhecida por Pedernã. Está muito presente na região normalmente fazendo parte dos lotes mas tal como o Avesso raramente a solo. Bem, raramente é um eufemismo pois francamente não me recordo de nenhum outro caso de um monocasta de Arinto na região dos Vinhos Verdes. Este Covela Arinto 2014 mostra-se amarelo esverdeado claro embora com um pouco mais de cor que os Avessos. Algo fechado de aromas com um perfil marcadamente mineral e com ligeiras flores brancas. Na boca mostrou-se muito duro, mineral, seco e com uma boa acidez. Deixa na boca uma marca floral a fazer lembrar a casca de laranja. Se já era um vinho muito interessante e com um perfil distinto, estes meses que passaram deverão ter-lhe retirado alguma da dureza e aberto os seus aromas. Parece ter uma grande capacidade de evolução.
O Rosé embora seja rotulado simplesmente como rosé é também um monocasta desta vez de Touriga Nacional, esta sim uma casta menos vista na região dos Vinhos Verdes. A Touriga Nacional tem fama de ser uma das melhores castas portuguesas para a produção de rosés devido ao seu perfil marcadamente floral que nos tintos novos se revela por vezes um pouco enjoativo mas que se adequa muito bem ao rosés. Este Covela Rosé 2014 mostra-se cobre claro algo fechado de aromas mas a revelar um floral ligeiro e algum rebuçado. Boa acidez sem ser muito longo na boca mas já se notava o corpo e estrutura que lhe dava um grande potencial de evolução. Enquanto escrevia este artigo chegou-me a noticia que quatro meses após o seu lançamento este vinho já estaria esgotado no produtor. Por isso dificilmente terei a oportunidade de avaliar a sua evolução que penso que seria excelente. Tenho de ver se ainda consigo apanhar por aí alguma garrafa.
Estes vinhos são vinhos que merecem ser guardados e bebidos com pelo menos 1 ano de garrafa. Infelizmente o mercado está sempre sedento de novidades e rejeita os brancos que não sejam da colheita anterior, porque Ah e tal os vinhos brancos ao fim de um ano passam-se.... Os produtores acabam por não ter outra hipótese senão lançar estes vinhos o mais cedo possível. O Covela Reserva Branco 2012 que tivemos oportunidade também de provar é um bom exemplo daquilo que digo, o tempo está a fazer-lhe tão bem... Mostra-se amarelo esverdeado claro com aromas a flores brancas intensos e citrinos maduros. Boa acidez, com uma boa untuosidade a contribuir para um ótimo corpo que se prolonga na boca. Um grande vinho branco com 3 anos e que provavelmente ainda não terá atingido o seu auge.
O Ramiro é o expoente da cervejaria Lisboeta, com marisco de qualidade irrepreensível, imperial gelada e sempre viva e carne preparada de modo obsceno para apaziguar os instintos carnívoros pós-mariscada. Se já era concorrida e afamada antes disso, a visita do Anthony Bourdain tornou-a um destino incontornável para os turistas que fazem fila à porta da entrada nas horas de maior movimento. Não temam que se tenha tornado uma turist trap, continua autêntica como sempre foi. Este é um dos restaurantes favoritos do Tony Smith em Lisboa e os brancos da Covela estão aqui como estivessem em casa na companhia dos mariscos do Ramiro. Nem valerá a pena alongar-me muito sobre a comida, babem-se nas fotografias...
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