Os meus objectivos para o Bloggers Challenge eram simples: Não perder por 3-0. O Bloggers Challenge mais do que uma competição em que o que conta é vitória pretende ser um evento de partilha de experiências e volta da comida e do vinho. Mas se ganhar ou perder não é o mais importante mas ainda assim preferia não perder por 3-0. Perguntavam-me ao inicio se estava nervoso e eu quase estranhado a pergunta dizia que não, afinal de contas as escolhas estavam feitas à muito tempo e naquele momento não havia nada com que ficar nervoso era o tempo para desfrutar a da companhia dos amigos que ali estavam para partilhar connosco aquela nossa brincadeira.
Diga-se que a nossa escolha foi ainda mais difícil do que pensam. Dos vinhos que tínhamos disponíveis para escolha tinha provado recentemente 2 deles mas os restantes se tinha provado tinha sido à algum tempo ou outras colheitas. O pratos também eram todos novidades para mim. Sabia mais ou menos o que poderia contar com o Arroz de Sapateira Real com Camarão pois teria a mesma base do Arroz de Tamboril com Camarão mas de resto teria de me guiar pelo senso comum considerando o que seria expectável para os pratos e perfil mais provável dos vinhos considerando o conhecimento que tenho das regiões, das castas e dos produtores.
Começo com as escolhas do Carlos para o acolhimento e depois para as entradinhas. Para o acolhimento tínhamos um Presunto de Porco Preto de ótima qualidade e o espumante S. João Bruto das Caves de São João. O S. João é um espumante bem feito, simples e fácil gostar. Não marca a memória mas também não era isso que se lhe pedia e cumpriu bem a sua função aqui. Já sentados e com a Sapateira Recheada e a Salada de Polvo chegou a segunda escolha do Carlos também em modo de prova cega. Adivinhei o vinho embora tivesse tido algumas pistas acerca do que seria e até o tinha provado dias antes. Preferia que tivesse mais alguma acidez embora tenha que concordar que algum corpo que apresentava até harmonizava bem com a gordura de ambas as entradas. Tratava-se do Bridão Clássico Branco 2014. Já à posteriori alguém dizia que pelos aromas floral que tinha pensou tratar-se de um vinho com Moscatel. Não é totalmente descabido pensar isso embora normalmente o Moscatel produza vinhos mais leves e com menos corpo que o Fernão Pires que é a casta base deste vinho.
Chegamos então à primeira etapa do Bloggers Challenge com o Crepe de Marisco. O crepe revelou-se um pouco diferente daquilo que estava à espera. Se eu tivesse lido com atenção a descrição do Carlos teria percebido que a imagem que criei do prato não correspondia à realidade. A minha visão era um prato frio de marisco cozido com maionese ou salada russa envolto num crepe. É claro que esta visão é incompatível com a fritura mesmo ligeira que o Carlos tinha referido. Assim procurei um vinho branco fresco e com boa acidez que me pareceu que poderia ser a melhor opção para o prato que imaginava. Escolhi um vinho que não conhecia bem mas como conhecia outros vinhos do produtor pareceu-me que poderia encaixar no perfil que pretendia. O crepe chega à mesa e desde logo percebi que não era o que estava à espera, um recheio mais rico e condimentado do que estaria à espera com o crepe a chegar quente à mesa depois de frito envolto em pão ralado. Uma quenele de salada russa acompanhava o crepe. Em termos de sabor, textura e do recheio não estava muito longe de um bom rissol de marisco em formato de crepe. Restava-me esperar que o meu vinho fosse capaz de aguentar a maior riqueza do recheio e a gordura da fritura.
O primeiro vinho a ser servido tinha mais corpo do o que achava que a minha escolha tivesse, o segundo mais seco mas aromaticamente mais intenso e com um vegetal algo rebelde, mudou um bocado no copo à medida que a sua temperatura subia. Parecia mais provável que o primeiro vinho fosse o meu mas mesmo assim estava desconfiado... O primeiro vinho harmonizava melhor com o prato e o seu corpo ligava bem com a riqueza do recheio do crepe sem se sobrepor. Mas achei o segundo vinho na sua rebeldia bastante interessante e a solo até gostei mais dele em certos momentos mas com prato sobrepunha-se demasiado ao prato e acabava por desarmonizar. O primeiro vinho era a minha escolha, o Somontes Branco 2013 e o segundo era a escolha do Jorge, o Frei João Branco 2013. O resto da sala concordou comigo na harmonização e também gostou mais do Somontes a solo. Uff... Objectivo cumprido... Já não perco por 3-0...
O Arroz de Sapateira Real com Camarão já não foi uma surpresa em termos prato. Tinha um pouco mais de picante do que estaria à espera o até achei que me pudesse beneficiar pois esperava que a minha escolha fosse um vinho um pouco mais encorpado do que o do Jorge e que por isso fosse capaz de lidar melhor com o picante. O vinho que escolhi foi uma segunda escolha pois o vinho que escolhi tinha esgotado no produtor. O que procurava era um vinho branco fresco e com boa acidez mas com algum corpo que pudesse ligar com o tempero do prato. Aqui o picante poderia ter um papel determinante, quanto mais picante o prato, mais corpo ou doçura precisava de ter o vinho. A minha primeira escolha dava-me mais confiança pois sabia que a acidez estava lá acompanhada por algum corpo e parecia-me que poderia lidar bem com o tempero do prato mesmo que o nível de picante fosse um pouco mais elevado. Já o vinho que acabei por ter escolher não conhecia tão bem, tinha ouvido falar bem dele e dizia-se ter boa acidez mas temi que a doçura e untuosidade fosse dominante e que pudesse cair na mesma situação em que o João tinha caído no 1º Bloggers Challenge no Arroz de Tamboril com Camarão ficando o nível de picante do prato aquém do ideal para um branco mais encorpado.
O primeiro vinho era um vinho com mais corpo e untuosidade e o segundo mostrava uma muito boa acidez e um corpo presente mas mais ligeiro dando uma maior sensação de secura na boca. Tão eu como o Jorge ficámos convencidos que o primeiro era o meu vinho e o segundo o dele. Como achei o prato mais picante do que estaria à espera pareceu-me que o vinho com mais corpo funcionaria melhor embora o segundo também não ficasse nada mal. A revelação dos vinhos trouxe o inesperado, afinal o primeiro vinho era o Prova Régia Reserva 2014, que tinha sido escolhido pelo Jorge, e o segundo o Herdade do Rocim Branco 2013, que tinha sido escolhido por mim. Apesar da informação que tinha de o Herdade do Rocim estaria fresco e com boa acidez confesso que me surpreendeu pela positiva pois tinha receio que fosse um Antão Vaz mais untuoso e pesado como por vezes acontece com os brancos alentejanos. Ainda assim achei que o Prova Régia teria lidado melhor com o picante e foi com alguma surpresa que os resultados anunciados davam a vitória ao Herdade do Rocim. Talvez o picante do prato não fosse tanto quanto eu percecionei ou a frescura do Herdade do Rocim tivesse sido preferida independentemente do peso do picante.
Chegamos ao Cabrito Saloio à Tendinha e este prato foi aquele que me deixou mais dúvidas em relação à escolha tanto pelo sabor forte do cabrito como pelo amargor dos grelos que pediam um vinho seco com boa acidez e com alguns taninos. O Dão vinha-me à cabeça como opção mais óbvia mas os vinhos do Dão disponíveis eram vinhos de gama de entrada e achei que seriam simples demais para o prato e que poderiam quebrar a progressão ascendente que é sempre desejável numa refeição com vários pratos e vinhos. Acabei por escolher um vinho Alentejano de gama média-alta de um produtor cuja oferta costuma ter estrutura com alguma acidez e taninos. Tive receio que pudesse ter alguma doçura que fosse potenciada pelos grelos ou que destoasse do sabor forte e da gordura do cabrito mas como muitas vezes quem prova em harmonizações acaba por valorizar mais o vinho por si próprio do que a harmonização tive esperança que o vinho por si se impusesse e a menor adequação da harmonização que pudesse verificar-se acabasse por passar despercebida. Recorri ao que normalmente se chamaria de uso desproporcionado da força. Fiz batota...
Era bastante claro que o primeiro vinho era o meu e que o segundo vinho era o Jorge. O meu um vinho mais encorpado e embora o perfil não caísse para a doçura como temia tinha o floral vindo da Touriga Nacional com o qual era feito que destoava um pouco dos sabores do cabrito e que acabava por se revelar uma distracção desviado-nos dos sabores do prato. Já o vinho do Jorge tinha um perfil direto com uma boa acidez e alguns taninos. Atacava a gordura e intensidade de sabor do prato sem jogos florais e revelava-se por isso mais eficaz. Não havia dúvidas que o Porta de Cavaleiros 2011 escolhido pelo Jorge era uma melhor harmonização e que minha jogada de alto risco com o Solista Touriga Nacional 2012 não parecia ter-se revelado compensadora apesar de ser um vinho muito interessante. O resto da sala também teve esta opinião o que deu o ponto de honra ao Jorge mas... Olha!... Ganhei o Bloggers Challenge!...
Ainda houve tempo para a sobremesa Tarte Queijada de Sintra para a qual o Carlos escolheu o Bridão Colheita Tardia 2013. No final da noite o mais importante não foi quem ganhou, até porque facilmente o resultado poderia ter sido o inverso e pela minha avaliação até teria sido o Jorge a ganhar. O mais importante foi o convívio que proporcionou e ter posto um grupo diverso de pessoas a pensar sobre o vinho.
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