O Vinho ao Vivo é um evento organizado pel'Os Goliardos. Os Goliardos são uma garrafeira-bar situada na Rua da Mãe d'Água junto à Praça da Alegria que faz também importação direta de vinhos de pequenos produtores de vários países. Nunca se proporcionou lá ir (uma grave falha da minha parte), mas não me são desconhecidos. Já tinha ouvido falar bastante dos seus cursos e provas vínicas, provei alguns dos vinhos que importam diretamente no Adegga Wine Market e escrevi umas coisas sobre eles aqui e ali.
Nos passados dias 6 e 7 de Julho realizou-se a terceira edição do Vinho ao Vinho na esplanada À Margem que têm albergado este evento desde a sua primeira edição. Fomos lá pela primeira vez. É um evento interessante devido a juntar produtores portugueses conhecidos a outros menos conhecidos e produtores estrangeiros que na sua maioria só estão disponíveis em Portugal através d'Os Goliardos. Como na garrafeira, os vinhos que se encontram aqui são normalmente vinhos originais e com uma boa relação qualidade preço. O preço da entrada do evento não é barato mas tendo em conta a seleção de produtores presentes até se percebe. Nós beneficiámos de um desconto de 50% por termos comprado as entradas com algumas semanas de antecedência o que tornou o preço bem mais simpático.
Bem, vamos já despachar os pontos menos bons do evento para passarmos às coisas boas. Fomos lá na 6ª feira e quando lá chegamos por volta das 20h (uma hora após a abertura) havia uma fila para entrar e o espaço do evento estava já bastante cheio. Não sei como foi nos anos anteriores nem como estava no Sábado mas nesse dia o espaço revelou-se claramente insuficiente sendo a circulação difícil. Se por um lado é bom ver um evento de vinho despertar tanto interesse e em especial numa audiência bastante jovem, por outro se é difícil circular pelo recinto e chegar às bancas dos produtores torna-se difícil aproveitar um evento como este na sua plenitude. A organização terá de repensar o evento de modo a evitar este constrangimento. O alargamento do espaço ou a mudança para outro local seriam a possibilidades mais óbvias mas o alargamento do horário, do número de dias ou a limitação do número de entradas seriam outras possibilidades.
Entrámos e como ainda não tínhamos jantado e dada a enchente decidimos ir comer logo de seguida antes que isso se tornasse mais difícil. Foi uma boa opção pois rapidamente conseguimos ser servidos e encontrar uma mesinha para comer. Podia-se optar por dois pratos, uma salada, uma sopa e uma seleção de salgadinhos. Optamos por um Leitão à Luiz (de origem brasileira) e por uma Salada de Cuscuz. Boas opções mas se tivéssemos esperado mais tempo para comer teria sido um ato de malabarismo tentar comer o leitão de pé sem uma mesa onde apoiar o prato.
Saciado o estomago com comida passamos ao vinho. Como normalmente fazemos neste tipo de evento começamos a primeira volta com os brancos, rosé e espumantes para depois fazermos uma segunda volta com os tintos e eventualmente uma última com os generosos. Eu ainda não cheguei ao nível de deitar fora o vinho após provar e por isso tenho ser muito criterioso naquilo que quero provar e beber somente a quantidade necessária para conseguir apreciar o vinho senão irei acabar irremediavelmente bêbado no fim do evento...
Nos brancos não pudemos deixar de provar os vinhos da Casal Figueira cujos vinhos atuais feitos com uvas da casta Vital provenientes de parcelas alugadas de vinhas velhas da Serra de Montejunto. Foi um projeto iniciado pelo falecido António Soares que veio a ser continuado pela sua esposa com a ajuda de amigos. Foi dado o nome de António a este vinho em sua homenagem e estes exprimem pela sua originalidade as características da casta, das vinhas usadas no lote e do ano em que foram feitos.
Passamos também pelos Champagnes Benoît Lahaye com grande qualidade apesar do seu preço não ser exagerado tendo em conta a sua origem. Os brancos que para mim foram a revelação do evento vinham da Alsácia do Domaine André Rieffel. Havia para prova 2 ou 3 Rieslings, 2 Pinot Gris e 1 Gewurztraminer doce. Eu sou um bocado perdido por um bom Riesling (prefiro os secos) e estes Rieslings estavam muito bons. Nos Pinot Gris gostei especialmente do Pinot Gris Kirchberg Barr Gran Cru e terminamos em beleza com o Gewurtztraminer Zotzenberg Grand Cru.
Os vinhos da Quinta da Pellada não são exatamente desconhecidos. Nos brancos predomina a casta Encruzado, típica do Dão, e que é uma das minhas castas brancas preferidas. Nos tintos onde o Quinta da Pellada é uma das bandeiras o produtor tinha ainda a prova três lotes de tintos que permitiam ter uma ideia das características de diferentes castas da quinta.
A região de Colares é uma região singular. Foi a única região portuguesa que resistiu à filoxera devido aos solos arenosos e às raízes excecionalmente profundas das suas vinhas. Ainda hoje as videiras são plantadas em pé-franco, sem os porta-enxertos de videiras americanas que permitiram a erradicação da filoxera. É uma região que quase todos já ouviram falar mas quando se pergunta se já provaram os vinhos a maioria das respostas serão negativas. No Vinho ao Vivo estavam a Adega Regional de Colares e a Adega Viúva Gomes e como bons vizinhos partilhavam a banca. Eu já tinha provado os vinhos de Colares mas nunca tinha tido a oportunidade de fazer uma prova tão detalhada. Vinhos com uma longevidade extraordinária e parecem saber ao mar que está ali tão perto. As provas dos brancos culminavam com um 1997 e a dos tintos com um 1969... Impressionava como vinhos tão antigos ainda estavam tão interessantes.
Dos Domaine Plageoles, da região de Galliac provei um monocasta de Duras, casta que desconhecia, e que achei bastante curiosa. Da Quinta do Mouro, que até agora ainda não tinha provado como deve ser provei dois dos seus vinhos de colheitas diferentes e acho que finalmente percebi a sua subtileza e fama de gozam. Tinham lá também uma experiencia de Petit Syrah que me pareceu bastante interessante para integrar em lote. Da Catalunha provei 3 vinhos tintos muito elegantes da casa Mas d'en Gil. Relativamente ao Clos Fonta 2006 dizia-me a filha do produtor qualquer coisa do gênero: É um vinho temperamental. Uns dias está tímido noutros está feliz. O meu pai deve pensar que é possível andar com um decantador debaixo do braço para o acordar nos dias em que está mais timido. Aqui em Lisboa têm estado muito feliz com um sorriso de orelha a orelha. E realmente estava muito feliz...
Durante a noite provamos outros vinhos mas estes foram os que mais nos chamaram a atenção. Todos os vinhos, excepto algumas experiencias e curiosidades, podia ser compradas no evento com desconto e estão disponíveis n'Os Goliardos. Terminámos com um Vintage da Quinta de Vale Meão a ouvir um pouco da música ao vivo que esteve sempre presente.
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