No final do ano passado a José Maria da Fonseca lançou as últimas edições dos seus dos moscatéis da Colecção Privada que recebe o nome do enólogo da casa, Domingos Soares Franco. Apesar de se dizerem pertencerem a uma coleccção privada serão os pontas de lança daquela que é a casa mais importante na história do Moscatel de Setúbal. São moscatéis já com um tempo de estágio significativo, rondando normalmente os 10 anos, são produzidos com um volume que já permite a sua presença habitual nas grandes superfícies sendo ao mesmo tempo as referencias que tem permitido mais inovação e experimentação ao enólogo que dá nome à colecção.
O Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel de Setúbal 2004 é feito com uvas da casta Moscatel de Alexandria e ao invés de se usar aguardente neutra, usa-se Armanhac na sua fortificação. Este vinho foi fruto das experiências feitas pelo Domingos no final dos anos noventa que chegaram ao mercado por via desta marca. Mostra-se laranja escuro com aromas a laranja, tangerina, ligeira glicerina e algum damasco. Acidez exuberante bem equilibrada pela doçura e untuosidade. Está excelente para beber já embora não seja de duvidar que certamente terá uma boa e longa vida.
O outro lado desta moeda é o Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2005 onde de uma maneira simplista poderemos encontrar 3 diferenças: o ano de colheita é diferente, a casta usada é o Moscatel Roxo e a aguardente usada é neutra. O primeiro lançamento deste vinho no mercado, há uns anos atrás, marcou o renascimento desta casta que atravessou um período onde se chegou a temer a sua extinção. Nesta colheita de 2005 mostra-se cobre escuro com aromas florais, ligeira rosa, mel e o seu favo e passas de uva e figo. Boa acidez que deixa sobressair alguma da sua doçura na boca, revelando-se untuoso e longo na boca. Não parecia tão pronto como o seu irmão e pareceu-me que ainda estava um bocadinho chateado de ter sido fechado dentro de uma garrafa. Nada que uns meses em garrafa não resolvam e neste momento esse choque já deverá ter passado. Deixa também revelar um pouco mais de doçura por via de uma acidez menos exuberante que o seu irmão. Mas tal como este deixa-se adivinhar uma longa e próspera vida.
Desde o segundo Peixe em Lisboa que tenho vindo a provar estes vinhos com regularidade e se iniciei esta viagem com uma afeição maior pelo Roxo, tenho vindo cada vez mais a deixar-me seduzir pelo Armanhac. Nem sei bem se foi o perfil dos vinhos que foi sendo afinado ou se fui que mudei. Provavelmente os dois mas aposto que eu serei o maior culpado. Se inicialmente a exuberância aromática com uma forte componente floral me deixou rendido ao Roxo com o tempo tenho cada vez mais vindo a apreciar a acidez exuberante do Armanhac e seu perfil mais cítrico. Talvez isso se deva somente ao facto de ultimamente ter andado a beber Armanhacs com mais anos do que os Roxos, até porque o mercado parece preferir o Roxo, sendo este produzido em maior volume e escoando-se mais rapidamente. Mas fundamentalmente é uma questão de gosto pessoal, quem prefira um acidez exuberante que põe a doçura destes vinhos para segundo plano preferirá como eu o Armanhac, quem prefira a exuberância aromática e um perfil onde a doçura se sobrepõe ligeiramente à acidez preferirá o Armanhac. Isto sem embargo que algumas destas características poderão mudar ligeiramente com o tempo. Mas no final das contas será sempre uma vitória ao photofinish, pois qualquer um deles é um grande moscatel.
Os vinhos provados foram gentilmente oferecidos pelo produtor.
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