Em 2013 ainda sob a consultadoria do Chakall o Quinta dos Frades torna-se o Volver com uma carta que tem as carnes argentinas como principal protagonista. Entretanto o chef Chakall acabou por se desligar deste projeto e a actualmente a liderança da cozinha está nas mãos de David Page um jovem chef português apesar do nome nos poder levar a acreditar que este não seja português. Se num restaurante como este a liberdade criativa acaba por se encontrar algo cerceada ainda assim o David parece-me ter conseguido encontrar algum espaço criativo mostrando um potencial bem interessante.
Ao chegarmos à entrada pela primeira vez numa imaginamos que por detrás de uma entrada pela fachada de um prédio anónimo do Lumiar encontraremos uma sala muito acolhedora pontuada por um aproveitamento muito bom de um pequeno logradouro além de trazer luz à sala transmite uma sensação de espaço e de recanto bucólico verdadeiramente surpreendente.
Ainda que a carne seja a principal seja o vosso principal desígnio não deixem de provar as entradas, com especial destaque para as empanadas que chegam quentes e estaladiças à mesa mas também por algumas outras onde o David Page têm um pouco mais de liberdade para se mostrar. Nas carnes que provei o Chuletón de Ávila foi aquela que mais gostei com uma vitória ao fotofinish em relação a outras como o Rib Eye ou o Baby Beef. Como aquecimento para o Bloggers Challenge deixo-vos com os instantâneos de uma visita que fiz uns meses antes.
O Bloggers Challenge foi disputado desta vez entre o Luís e o Mário mas ainda antes de começar o sector competitivo deste Bloggers Challenge tivemos o sempre excelente espumante do Joaquim Arnaud a acompanhar as empanadas e já na mesa o curioso branco Antítese 2012 a acompanhar as Tapas Volver, a saber Pana Cotta Volver Y Scones, o Chorizo, Quinoa, Arandos e Coentros e o Ovo Fumado, Rosti de Batata-Doce, Espargos Y Azeite Trufado. Muito interessante e bem conseguida a ligação entre a quinoa e o chouriço e especialmente bom, embora um pouco difícil de harmonizar, o ovo fumado que estava bem guloso, a namorar com a batata doce e os espargos que chiavam nos dentes dando textura ao prato.
O sector competitivo da noite iniciou-se com o Polvo Oxaca que se revelou um prato um pouco complicado de harmonizar em especial devido ao esparregado mas também devido aos cogumelos. Os vinhos escolhidos eram dois brancos, o primeiro vinho mostrava-se amarelo claro esverdeado, com aromas a relva mas também alguma manteiga. Na boca mostrava uma boa acidez e alguma untuosidade a dar-lhe corpo e a encher a boca. Já o segundo vinho mostrava-se amarelo claro também com alguma relva no nariz mas com um perfil mais mineral. Acidez a crescer durante prova que lhe foi dando comprimento de boca sempre num perfil mineral. Os cogumelos com o seu perfil terra exacerbavam algum amargor nos vinhos e a gordura do esparregado chocava com a acidez dos vinhos.
Nenhum dos vinhos harmonizava especialmente bem com o prato e talvez até harmonizasse melhor com um tinto ligeiro talvez até com uma ligeira doçura que pudesse mediar a gordura do esparregado. O primeiro vinho, o Caios Branco 2013, escolhido pelo Luís, acabava por funcionar melhor por via da sua untuosidade e corpo, tendo sido também essa opinião da maioria dos participantes no jantar. O segundo vinho, escolhido pelo Mário, era o h'Our Branco 2014. Se no início da prova o h'Our me pareceu um pouco delgado, durante prova cresceu muito deixando sobressair a sua acidez tornando-se longo na boca e cheio de mineralidade. Com marisco ou com um peixe grelhado poderia ter brilhado mas aqui chocava de frente com o prato. E assim o Luís partia na frente.
Com a segunda etapa do sector competitivo chegava aquele que é o ex-libris do Volver: carne! Neste dia era um Baby Beef que fazia as honras da casa. Sem grandes surpresas ambos os vinhos escolhidos eram tintos. O primeiro, ruby com laivos violeta mostrando no nariz algumas violetas e um ligeiro químico. Boa acidez na boca com um ligeiro animal na boca a dar-lhe complexidade e carácter e taninos bem presentes e até um pouco irregulares. O segundo vinho mostrava-se ruby com laivos violeta com um nariz um pouco fechado, mineral e com algum químico. Na boca mostrava uma acidez ligeira e taninos muito finos e elegantes.
Com o prato gostei mais do primeiro vinho, o Américo Touriga Nacional 2010, escolhido pelo Luís, cuja acidez e taninos mais presentes me pareceram lidar melhor com a gordura do prato embora a solo tenha gostado mais do Casa da Carvalha Tinto 2010, escolhido pelo Mário, devido à sua grande elegância. Aqui a maioria dos participantes no jantar não concordou comigo, tendo preferido a harmonização com o Casa da Carvalha Tinto 2010. Isto permitiu ao Mário empatar a contenda e partir em igualdade para a última etapa.
A competição encerrava-se com a sobremesa, Chocolate, O Amendoim e o Caramelo que trouxe para a mesa duas propostas bem diferentes. O primeiro um licoroso com um estilo a fazer lembrar um Porto Ruby mas com uma cor mais escura, menos frescura e um perfil algo diferente. O segundo, um colheita tardia bem interessante com uma boa acidez e uma doçura não muito exagerada.
Tendo a sobremesa como base o chocolate, a escolha óbvia seria um Porto Ruby pelo que o primeiro vinho, embora não sendo um Porto parecia à partida favorito. Mas o chocolate era de leite e o outros componentes, o amendoim e o caramelo já pediriam mais um Porto Tawny ou um licoroso branco. Assim acabei por preferir o segundo vinho, o Casal Sta Maria Late Harvest 2014, escolhido pelo Mário, ao Mouchão Licoroso 2009, escolhido pelo Luís.
Já o resto dos participantes na votação final não teve a minha opinião preferindo o Mouchão Licoroso 2009 o que deu a vitória final ao Luís que se tornou o terceiro vencedor do Bloggers Challenge.
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