... o São Gabriel. Este Verão tive a oportunidade de voltar ao São Gabriel, por coincidência no dia em que este blogue cumpria o seu quarto aniversário. Se me vão lendo sabem que gosto muito da cozinha do Leonel Pereira e esta refeição cumpriu todas as expectativas que tinha em antecipação. Como ainda não tinha deixado por aqui o registo desta visita aproveito esta ocasião para o fazer. Mas antes quero deixar aqui referencia das duas menções honrosas. Uma delas já por aqui passou e trata-se do jantar de encerramento do Taste Portugal London logo ali ao final da rua depois de passar pelo São Gabriel. Teve momentos verdadeiramente brilhantes mas num registo não completamente consistente como seria de esperar num menu feito a 8 mãos. Da outra menção honrosa ainda não falei aqui, bem até falei aqui do Ipsylon no ano passado mas ainda não vos contei sobre a noite épica em que o chef Cyril Devilliers nos deu a provar a última carta de Outono-Inverno e que lhe garantiu esta menção honrosa.
Não me vou alongar muito em descrições. Este menu já seria o menu 2.5 do ano de 2015 em que já havia pratos do terceiro menu do ano ainda com pratos do segundo, o que mostra a produtividade e a necessidade de estar sempre a inovar e a mostrar coisas novas do chef. Começámos com umas Sardinhas Assadas em que no copo de martini era servido a essência de uma salada de tomate ou gaspacho sob a forma um Bloddy Mary, passamos ao Mergulho no Mar com uma evolução da Ria Formosa e das experiências com plankton que o Leonel tem feito. Quatro snacks empratados (ou seria enconchados?...) numa concha que apesar de aparecer pelas praias algarvias não há memória que alguém tenha visto este animal vivo. O Linguado (pelo Ribatejo chamariam-lhe Folha de Louro) desidratado e frito servido à la Meunière, o Carabineiro, as Lulas e o que parecia um croquete mas com um recheio cheio de sabor a mar, qual cruzamento perfeito entre um croquete e um rissol de marisco. Passámos pelo Canneloni de Wasabi recheado com Santola antes de chegar a brilhante Alheta do Robalo cheia de aroma, frescura, balsâmico e com algum picante a intensificar e prolongar os sabores na boca. Mantivemo-nos no peixe com o Salmonete acompanhado pelas favas, ervilhas e caviar fumado.
O Falso Tutano une o Foie Gras, Torresmos de Porco Bísaro, Maçã, Pêra e Gel de Porto para dar uma textura a trazer-nos à memória o verdadeiro tutano não fazendo este parte do prato. Uma versão deste prato deverá ser o único que se mantém na carta actual do São Gabriel. Seguiu-se um prato de carne verdadeiramente extraordinário com o astucioso nome de Pica na Língua e que faz uso de um produto menos nobre, a língua de porco, temperada com os sabores de criação do Leonel bem potenciados por algum picante a fazer jus ao nome. Seguiu-se o Pombo Royal e a Couve Flor com uma proteína muito acarinhada pelo chef, na primeira vez que comi no Panorama também havia um prato de pombo com ervilhas no menu de degustação, mas é um produto que apesar de nobre desperta muitas animosidade aos públicos mais urbanos para quem o pombo não passa de um rato com asas. Urbano-depressivos... Terminámos a fase salgada da refeição com a Ovelha Churra, uma idiossincrasia da serra Algarvia quase em vias de extinção. O algarvios dizem que foi um bode algarvio que fod&u uma ovelha alentejana, os alentejanos dizem que foi um carneiro alentejano que fod&u uma cabra algarvia... Ao certo ninguém sabe mas com este prato o chef Leonel Pereira deixou o seu contributo para que esta singularidade não se perca.
No capitulo doce da refeição começamos com o pinheiro que o Leonel andou meses a tentar destilar num gelado que fosse fiel às cores dos pinheiros da costa algarvia. E continuamos na paisagem algarvia com a amêndoa, a tangerina e a violeta. Por aqui desliguei a câmara e já não registei as mignardises que acompanharam o café nem a longa conversa com o chef pela noite dentro... Foi uma noite longa mas muito gratificante, uma noite única como só acontece ocasionalmente.
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