O Belcanto ganhou uma inteiramente merecida segunda estrela, tão merecida aliás que a partir de agora penso que se poderá rapidamente afirmar como tendo potencial para as três estrelas. É também um marco importante na gastronomia portuguesa, pois o José Avillez tornou-se o único chefe português com duas estrelas Michelin. Não será o primeiro pois o primeiro restaurante português com duas estrelas terá sido o Escondidinho no Porto, entre 1936 e 1939, e embora não se saiba quem seria o chefe (ou chefes) provavelmente seria português. Mas sem querer desvalorizar este feito recebi-o com alguma perplexidade... Fica-se sem perceber porque que outros restaurantes demoram tanto tempo para alcançar 2 estrelas e no Belcanto se conseguiu fazer justiça tão rapidamente. Ainda bem para o José Avillez e espero que isto seja um bom prenúncio para o futuro. Espero que a seguir ao Belcanto outros restaurantes como a Fortaleza do Guincho, o The Yeatman ou o Largo do Paço, só para mencionar alguns dos que me parecem ter mais potencial para 2 estrelas, possam vir a merecer também esta distinção. Lisboa fica ainda mais rica com um duas estrelas.
Desde o ano passado a minha opinião acerca do São Gabriel mudou ligeiramente e é agora a minha convicção que o São Gabriel está a trabalhar não ao nível de uma estrela mas de duas. Mas mesmo assim não acreditava que os inspectores do Guia Michelin dessem o braço a torcer tão rapidamente e devolvessem já a estrela ao São Gabriel. Pensei que impusessem um período probatório de dois ou três anos antes de devolverem a merecida estrela. A retirada da estrela e a sua devolução logo no ano seguinte à mesma equipa acaba por descredibilizar um pouco o guia e mostrar que a retirada da estrela em 2013 foi um ato discricionário e injusto. Mas se calhar até foi melhor assim pois quem acaba por sair ainda mais valorizado é o trabalho do Leonel Pereira e da sua equipa pois assim ninguém poderá ter a tentação de dizer que a estrela foi herdada e não ficam quaisquer dúvidas que foi esta equipa que efetivamente conquistou esta estrela.
Nunca comi no Pedro Lemos, mas tenho ouvido falar muito bem e ainda à umas semanas atrás um amigo me tinha dito que a qualidade era merecedora de uma estrela. Faz-se também justiça à cidade do Porto que não tinha qualquer restaurante estrelado e era necessário atravessar o Douro e rumar ao The Yeatman em Gaia para encontrar uma estrela no céu.
Há umas semanas atrás comi num estrela Michelin fora de Portugal e essa experiência permitiu-me olhar de um modo um pouco diferente para os critérios do guia Michelin. Sem o ter planeado fui ao Al Pont de Ferr em Milão pois quando se passa à porta e se percebe que se pode almoçar sem reserva estando disponível um menu de almoço por 20€ é difícil resistir à oportunidade. Por 20€ era possível escolher dois pratos de uma lista que até não era pequena estando ainda incluídos neste preço uma seleção muito rica de pão e quatro pequenos snacks no inicio da refeição. Com as bebidas e as sobremesas, que não estavam incluídas, pagou-se um pouco mais do que 40€ por pessoa por uma ótima refeição num restaurante estrelado. A qualidade dos pratos e dos ingredientes usados era inegavelmente merecedora da estrela e o serviço foi seguro e ajustado ao espaço mas bastante mais informal do que é habitual num estrela Michelin em Portugal. Basta dizer que a cobrir a mesa não estava uma toalha mas individuais de papel com textos e imagens alusivos ao restaurante.
Muitas vezes diz-se que para a primeira estrela o que importa é a comida e que o serviço é considerado em segundo plano e ali no Al Pont de Ferr esse critério parece ser usado, perdoando-se justamente esta informalidade na medida em que não prejudica o serviço. Se este critério fosse também usado em Portugal muitos mais restaurantes poderiam ser considerados merecedores de estrelas. Por outro lado fica-se sem perceber porque é que este tipo de menus não é mais praticado nos restaurante deste nível em Portugal. Eu percebo que restaurantes como o Belcanto não o faça pois já têm a sala cheia nos almoços durante a semana mas quantos restaurante de bom nível, alguns com estrelas Michelin, têm salas quase vazias aos almoços durante a semana e não apostam neste tipo de serviço. E não me venham dizer que o Al Pont de Ferr perde dinheiro com este menu...
Considerando estes critérios e olhando para a quantidade de restaurantes estrelados na nossa vizinha Espanha, que partilha o guia connosco, chega-se à conclusão que o normal seria que existissem o dobro dos restaurantes estrelados em Portugal. Sem pensar muito, consigo lembrar-me de 5 ou 6 restaurantes na região de Lisboa cuja atribuição de uma estrela não escandalizaria e muitos mais haverá no resto do país. Nós às vezes tornamo-nos ainda mais pequenos quando nos pomos a discutir se os restaurantes estrelados são realmente merecedores das estrelas, quando o problema não é se quem as tem as merece, o problema é quantos as merecem e não as têm. Pode-se dizer que o guia não tem credibilidade e tentar desvalorizar as suas escolhas mas o que é certo é continua a ser uma referencia em todo o mundo e o turismo português perde milhões de euros todos anos com esta subalternização a que a restauração portuguesa é submetida. Infelizmente, acho que ainda vão demorar muitos anos para que esta situação seja corrigida.
Além das estrelas, o Guia Michelin atribui ainda a classificação Bib Gourmand a restaurantes que servem refeições de qualidade por um preço moderado. Se nas estrelas o saldo ainda foi positivo, aqui ano após ano, cada vez menos restaurantes são contemplados e se no ano passado o número já tinha baixado para 34, este ano ainda se reduziu para 33, com três saídas e duas entradas. Novidades apenas duas, ambas na Beira Litoral, O Típico em Águeda e o Dóri em Aveiro. É difícil de perceber as razões, talvez a crise esteja a matar alguns destes restaurantes ou pelo menos a faze-los ter de subir preço. Fica-se ainda na dúvida se o valor de preço moderado considerado pelo guia para Portugal estará ajustado à realidade portuguesa.
As novidades estão realçadas a amarelo.
Restaurantes Portugueses com Estrelas Michelin em 2014
**
Belcanto - Lisboa - José Avillez
Vila Joya - Albufeira - Dieter Koschina
The Ocean (Vila Vita Parc) - Armação de Pêra - Hans Neuner
*
Eleven - Lisboa - Joachim Koerper
Feitoria (Altis Belém) - Lisboa - João Rodrigues
Fortaleza do Guincho - Cascais - Vincent Farges
Henrique Leis - Almancil - Henrique Leis
Il Gallo d'Oro (The Cliff Bay) - Funchal - Benoit Sinthon
L'And (L'And Vineyards) - Montemor-o-Novo - Miguel Laffan
Largo do Paço (Casa da Calçada) - Amarante - Vitor Matos
Pedro Lemos - Porto - Pedro Lemos
São Gabriel - Almancil - Leonel Pereira
The Yeatman - Gaia - Ricardo Costa
Willie's - Quarteira - Willie Wurger
Restaurantes Portugueses Bib Gourmand
3 Pipos - Tonda
A Casa da Emília – Alpiarça
A Casa do Avô – Albufeira
Aquário - Lagos
BL Lounge - Évora
Camelo - Viana do Castelo
Carvalho – Chaves
Casa Matos – Salreu
Casinha Velha - Leiria
Centurium – Braga
Cêpa Torta - Alijó
D'Avis – Lisboa
Dom Joaquim – Évora
Dóri - Aveiro
Ferrugem - Vila Nova de Famalicão
Histórico by Papaboa - Guimarães
Machado - Maia
Mário Luso – Carvalhos
Marquês de Marialva – Cantanhede
Moiras Encantadas - Paderne
Muralha da Sé – Viseu
O Alambique - Poço Barreto
O Arrastão – Alcochete
O Barrigas – Golegã
O Barro - Redondo
O Júlio – Gouveia
O Parreirinha – Queluz
O Típico - Agueda
Pedra Furada - Pedra Furada
Quinta de Castelães - Guimarães
Santo Amaro – Sertã
Solar dos Nunes – Lisboa
Trinca Espinhas - Sines
Sem comentários:
Enviar um comentário