Enquanto isso lá para os lados de Azeitão o sol transformava-se em doce e algumas uvas predestinadas começavam a seu paciente repouso na Adega dos Teares da José Maria da Fonseca. Entretanto, regimes fizeram-se e desfizeram-se e a própria José Maria da Fonseca atravessou períodos de maior turbulência tendo vindo a adaptar-se a moldar-se aos diferentes desafios que se foram apresentando ao longo destes 100 anos. É num mundo completamente diferente daquele que existia quando nasceu que este Moscatel de Setúbal Superior 1911 vê a luz do dia passados 103 anos. Junta-se à festa da comemoração dos 180 anos da José Maria da Fonseca como um convidado de honra.
Foram engarrafadas 180 garrafas de meio litro das quais 100 serão leiloadas num evento a decorrer na Casa Museu da José Maria da Fonseca em Azeitão no próximo dia 2 de Dezembro pelas 19h30m. As restantes 80 garrafas ficarão na coleção da José Maria da Fonseca. Tive o privilégio de receber da José Maria da Fonseca uma pequena amostra deste vinho cuja prova partilho aqui na medida do possível. Não é fácil descrever em palavras um vinho como este...
Abrir, esperar, esperar, esperar... Afinal de contas este vinho esperou tanto tempo para chegar a um copo que agora é preciso dar-lhe tempo para se acomodar e ambientar ao copo. A cor é café ligeiramente translucido com o rebordo ligeiramente esverdeado a mostrar a idade. Uma intensidade de aromas que quase sufocam, primeiro algum verniz a dominar, esperar mais um bocadinho... Depois do estalar do verniz, os caramelos, o doce de leite, um ligeiro cravinho e apimentado. Não se pode inspirar muito senão as narinas ficam saturadas, tal é a intensidade dos aromas... Passado algum tempo, maça assada, ligeira canela e passas de figo. Os aromas perduram no copo longamente...
Uma boca verdadeiramente fenomenal, muito denso na boca, quase como se de uma calda ou um caramelo se tratasse, com muito açucar amarelo. Excessivo e opulento como se fosse um doce conventual. Mas tudo isto sem se tornar pesado pois mesmo com toda esta doçura a tentar esconder a acidez, esta sobressai de modo exuberante deixando-nos sensações contraditórias de excesso e equilíbrio. Depois de por o copo à boca a nossa língua percorre imediatamente os lábios num reflexo condicionado para não deixar fugir as pequenas gotas que escapam para os nossos lábios. Longo, longo...
Uma experiência de vida!
A amostra do vinho provado foi gentilmente oferecida pelo produtor.
Sem comentários:
Enviar um comentário