Já faltam menos de duas semanas para a edição de 2015 do Festival do Vinho do Douro Superior e depois de ter deixado ficar por aqui os instantâneos das visitas que efectuámos âmbito da última edição do Festival do Vinho do Douro Superior é a vez dos jantares. Ficam só a faltar as provas. Foram dois os jantares em que tivemos a oportunidade de participar. Um deles fazia parte do programa aberto ao público do festival e o outro foi organizado pelo produtor Palato do Côa para convidados do produtor e da organização.
Poucas horas depois de termos chegado a Vila Nova de Foz Côa tínhamos à nossa espera um jantar vínico preparado por Marco Gomes no restaurante do Museu do Côa sendo a harmonização com os vinhos feita pelo Fernando Melo. Tínhamos à nossa espera no exterior do museu um conjunto de entradas como Bombons de Alheira, Mexidos com Espargos Verdes, Escabeche de Peixinhos do Rio, Açorda de Erva Peixeira e Bola de Carne. Destaque para o Escabeche de Peixinhos do Rio e para a Açorda de Erva Peixeira. A Erva Peixeira é normalmente um sinónimo de Hortelã da Ribeira mas garantia-nos o Fernando Melo que de acordo com o Marco Gomes esta Erva Peixeira aqui usada era sem dúvida uma erva diferente da Hortelã da Ribeira. Estas entradas foram harmonizadas com o Quinta da Terrincha Branco 2013 e o Valle do Nídeo Branco 2012.
Já sentados à mesa chegou-nos o Bacalhau Braseado, Milhos tradicionais e Salada de Azedas. Um prato muito interessante com a azedas a introduzirem uma nota amarga muito bem conseguida, a mostrar que não é preciso usar rúcula de modo indiscriminado para introduzir este tipo de notas e que também temos vegetais na nossa tradição gastronómica capazes de o fazer. A acompanhar este prato foi servido o Crasto Superior Tinto 2011. Continuamos com a Pá de Cabrito com Batatinha Assada e Arroz de Forno que fez as delicias dos apreciadores de cabrito. A mim, que não sou dos maiores fãs de cabrito não me tocou assim tanto embora a execução fosse irrepreensível. Este prato foi acompanhado pelo Quinta da Canameira Grande Reserva Tinto 2010. Terminamos com uma brilhante Trilogia de Amêndoa que tinha o Pudim e o Rochedo de Amêndoa e ainda o Toucinho do Céu acompanhados pelo Gelado de Abóbora com o qual foram servidos dois portos, o Burmester Quinta do Arcozelo Vintage 2009 e o Amável Costa 20 Anos. Para mim não havia dúvidas... Se se pudesse dividir a humanidade entre Twanies e Rubies eu seria certamente um Twany. Mas para além desta questão pessoal este tipo de sobremesas com ovos e amêndoa gosta claramente mais dos frutos secos de um Twany velho do que da fruta vermelha de um Vintage novo. Eu não conhecia o trabalho do chef Marco Gomes que aqui procurou colocar no prato as suas origens transmontanas. Fiquei com curiosidade de conhecer mais.
O jantar organizado na noite seguinte decorreu no restaurante Aldeia Douro. Este restaurante é considerado por muitos locais como uma lufada de ar fresco no panorama da restauração local. A equipa é jovem, a decoração é moderna, fugindo ao que é habitual na restauração tradicional local. Estes eventos nem sempre são as melhores ocasiões para avaliar um restaurante por serem um serviço atípico e com a dificuldade de fazer sair dezenas de pratos iguais simultaneamente para a mesa. Houve ali alguns desacertos que me pareceram devidos a inexperiência e à dificuldade deste tipo de serviço. Ovos e espargos são ingredientes muitos ingratos para os vinhos e servi-los numa apresentação de vinhos não parece ser a melhor opção. Notou-se também alguma variação nos pontos de cozedura e no tamanho das doses. Chegou-se ainda a temer a extinção do alecrim em Vila Nova de Foz Côa e arredores tal a generosidade com que foi usado com fins decorativos.
Mas estou a ser gastrochato, há por ali boas ideias e parece-me que num serviço normal com cada prato a ser preparado em quantidades mais reduzidas e servidos desfasadamente, a maioria destes pormenores não se fariam notar. É bom que surjam estes projectos fora dos grandes centros e que sejam acarinhados pelos locais como parece ser o caso. A própria restauração tradicional pode beneficiar do desafio e frescura que trazem. Gostaria de lá voltar para apreciar o serviço normal. Passem por lá se forem a Vila Nova de Foz Côa. Os vinhos do Palato do Côa, um produtor relativamente recente com vinhas na Muxagata, revelaram-se bastante interessantes. Foram provados 5 vinhos, 2 brancos e 3 tintos. Destaque para o Palato do Côa Reserva Branco 2012 que combinava um boa acidez com alguma untuosidade parecendo ainda beneficiar com algum tempo de garrafa e o Palato do Côa Grande Reserva 2011 que combinava acidez e frescura de vinhos mais novos com os taninos finos, algum licorado e terra molhada que são característicos de vinhos mais evoluídos. É um produtor a manter debaixo de olho, os seus vinhos não parecem ser uma expressão tão direta do seu terroir como noutros casos mas o potencial para produzir vinhos de qualidade parece ser grande.
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