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Conjurando entre o Vinho e o Mármore - Segundo Ato

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E lá fomos em direção a Vila Viçosa aproveitando todos os vapores inflamáveis que irradiavam do depósito vazio para escorregar pelos montes alentejanos. Os cinco quilômetros fizeram-se seis ou sete sem muita surpresa pois estávamos no Alentejo onde as distâncias são fruto do passar lento do tempo e não do esquadro. Entramos na vila e rapidamente encontrámos onde reabastecer. Ao ritmo alentejano encheu-se o depósito e seguimos para o centro da vila. Depois de estacionado o carro seguimos a pé em direção ao Paço. Procurávamos mas seguíamos mais por intuição do que por orientação. Já prestes a desistir ao avistar o Paço à nossa esquerda vimos à nossa direita a Taverna dos Conjurados. Entrámos sem muita convicção pois as três horas aproximavam-se e duvidávamos que nos saciassem a fome a hora tão tardia. Ainda servem almoços? - perguntámos. Claro que sim. Desde que a cozinheira ainda esteja na cozinha...

Conjurando entre o Vinho e o Mármore - Segundo Ato - reservarecomendada.blogspot.pt

Já tínhamos ouvido falar da Taverna dos Conjurados. O Jorge tinha passado por aqui no ano passado e eu tinha lido o que ele escreveu. Assim quando a possibilidade de irmos almoçar ao Narcissus no Marmòris se gorou foi a primeira coisa de que me lembrei. Mas o adiantado da hora e facto de não saber exatamente onde era não me davam muita confiança de que fosse possível lá comer. Felizmente persistimos e encontrámos.

O espaço ocupado pela Taverna dos Conjurados já foi cavalariça e diz-se que já aqui repousaram as talhas do vinho feito numa adega ao lado. Faz parte do Solar de Tomé de Sousa que é propriedade da família de Manuel Camarinhas há três gerações. Manuel Camarinhas tem uma veia gastrônoma e em 2005 decidiu fazer deste espaço a Taverna dos Conjurados.

Perguntámos se tinha alguma sugestão, para facilitar o trabalho da cozinha pois tínhamos chegando tão tarde que não queríamos ser indelicados e pedir alguma que fosse mais demorada na cozinha. O Sr. Manuel respondeu-nos taxativamente: Aqui não sugerimos nada. Escolham à vossa vontade. Só não temos os lombinhos. Assim teríamos mesmo de exercer o nosso juízo critico e escolher. A carta se bem me recordo dividia-se em 5 partes principais: as entradas, as sopas, os pratos de peixe, os pratos de carne e os doces. Diga-se que aqui quando se fala em sopas usa-se a aceção mais literal da palavra, isto é: pedaço de pão embebido em caldo ou em outro líquido. Escolhemos três pratos de partes diferentes da carta para dividir: o Paté de Veado com Molho de Frutos Silvestres, a Sopa de Cação e as Migas com Carne do Alguidar.

A carta de vinhos é relativamente curta e restrita a referências da região mas cumpre adequadamente a função de acompanhar os pratos com um cariz regional muito marcado. Um pormenor a saudar é a existência de três ou quatro referências que são servidas a jarro sendo o mais pequeno de 0,25cl. Na realidade não era bem um jarro mas uma daquelas garrafas italianas onde por vezes é servida a água. Saudei esta opção que era bastante comum na nossa restauração até há uns 20 anos atrás e que se perdeu entretanto. Dividem-se as razões para isto entre os restaurantes que preferem ter menos trabalho vendendo o vinho em garrafa e os clientes que associam o jarro, a vinho de menor qualidade. Não têm de ser assim e a Taverna dos Conjurados é uma prova disto. O Sr. Manuel, segundo me disse, sempre fez questão de ter vinho a jarro desde a abertura do restaurante mesmo numa altura em que o vinho a copo ou a jarro pouco se via e sofria de um enorme estigma. A nossa refeição foi bastante bem acompanhada com um jarro pequeno do branco e outro do tinto da casa, que eram de uma propriedade de familiares do Sr. Manuel.



Começamos com o Paté de Veado com Molho de Frutos Silvestres. E foi um bom começo onde as referências da caça e da cozinha medieval que fazem parte da matriz deste restaurante se fazem notar. O molho com alguma acidez ligava bastante bem com a gordura a riqueza do paté.



Passámos para a Sopa de Cação, um daqueles pratos emblemáticos do Alentejo. Menos avinagrada do que é habitual. Sabe, dizia-me o Sr.Manuel, o cação tornou-se um prato alentejano devido a ser um dos poucos peixes que aguentava a viagem. E às vezes já chegava no limite do comestível ganhando um cheiro característico e o vinagre era usado para disfarçar este cheiro. Atualmente a questão da frescura já não se põe mas algumas casas preferem continuar a carregar no vinagre pois as pessoas estão habituadas a que a Sopa de Cação tenha esse sabor avinagrado. Nesta zona não era tão habitual usar-se tanto vinagre e aqui preferimos deixa-lo menos avinagrado. O pão com miolo compacto característico dos pães alentejanos cumpria a sua função de maneira excelente e o cação estava cozinhado na perfeição. Muito bom. Já tinha valido a pena a viagem.



Chegaram então as Migas com Carne do Alguidar. Este é um prato que evito pedir em restaurante pois habitualmente desilude-me devido à irremediável comparação que acabo por fazer com as migas feitas pela minha mãe mas aqui decidi arriscar. E fiz bem pois apesar de terem um "estilo" ligeiramente diferente das da minha mãe resistiram bastante bem à comparação. As migas são servidas um pouco mais húmidas e menos cozinhadas e a carne é cortada em pedaços mais pequenos do que é habito na casa da minha mãe. Eu, que já não comia migas há uns tempos, fiquei satisfeito.



Terminámos com um doce com requeijão e ovos de que não fixei o nome mas que foi um justo fim para uma boa refeição. Terei de voltar com um pouco mais de tempo para explorar um pouco mais da carta. Uma das mais-valias desta taverna é o anfitrião, Manuel Camarinhas que nos cativa com o seu conhecimento da gastronomia regional e com o qual é um prazer conversar. Despedimo-nos e deixamos a casa fechar para o almoço...

Voltamos lentamente ao centro da vila onde tínhamos deixado o carro. Mas embora tivéssemos saciado a fome ainda não nos encontrávamos satisfeitos... Decidimos continuar a procurar sem a certeza de conseguirmos encontrar...

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Guia das Tascas e Tabernas de Portugal - www.wook.pt

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