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Moscatel

Como podem já ter visto aqui, ali, acolá e ainda além, eu tenho um carinho especial pelo Moscatel e em especial pelo Moscatel de Setúbal. Tendo crescido no Barreiro, habituei-me desde muito cedo a ver nos cafés e bares da zona, o Moscatel, como presença habitual e desde os meus 20 anos que tenho o hábito beber Moscatel. Por sorte havia uns dois ou três sítios que frequentava que tinham sempre Moscatel com uma qualidade bastante aceitável embora em alguns lugares o servissem à temperatura ambiente ou num copo alto cheio de gelo.

Moscatel - reservarecomendada.blogspot.pt

Durante algum tempo deslocava-me religiosamente a um barzinho no Barreiro para beber um Alambre 20 anos por 900 escudos ao final da noite. Beber um Alambre 20 anos era, e ainda é, uma experiência divinal e quase acessível. Foi com alguma surpresa que depois de começar a sair à noite com alguma regularidade em Lisboa me apercebi que do lado norte do rio o Moscatel era um quase desconhecido. O Moscatel, que era um dado adquirido na península de Setúbal, fora dela era uma exceção e pedir um Moscatel era uma quase garantia de sermos olhados com uma certa estranheza. O Moscatel foi durante muito tempo um segredo da Península de Setúbal. Só recentemente o consumo de Moscatel se tornou mais generalizado, ironicamente graças a um Moscatel do Douro de gama baixa e com um estágio curto.

O Moscatel de Setúbal é um vinho fortificado feito com uvas da casta Moscatel de Alexandria (casta branca) ou Moscatel Roxo (casta tinta) podendo conter até 15% de uvas de outras castas autorizadas sem ser Moscatel. Existem duas designações que podem ser usadas de acordo com a casta usada: Moscatel de Setúbal quando a casta usada for Moscatel de Alexandria ou Moscatel Roxo ou Roxo quando a casta usada for Moscatel Roxo. A fermentação é parada pela adição de aguardente vínica e deverá ter um estágio mínimo de 18 meses embora no Moscatel de qualidade os estágios sejam obrigatoriamente superiores. Diz-se que 3 anos é o mínimo para que a aguardente "case" com o vinho. É permitida a menção Superior quando os vinhos tenham um estágio mínimo de 5 anos e estes se destaquem pela sua qualidade em prova efetuada. O Moscatel de Setúbal pode ser comercializado com indicação de data de colheita quando o lote seja proveniente de um único ano ou sem indicação de data de colheita quanto loteado a partir de vinhos de anos diferentes. As designações 10 anos, 20 anos, 30 anos e 40 anos podem ser usadas quando o vinho mais novo do lote tenha pelo menos a idade indicada à data do engarrafamento. Isto diferencia-se da regra usada no Porto e nos Moscateis do Douro em que é usada a média de idade do lote e não o vinho mais novo. As grandes referencias em termos de produção de Moscatel de Setúbal são a José Maria da Fonseca e a Bacalhôa Vinhos (antiga JP Vinhos).


Existe também a denominação de origem Moscatel do Douro que usa Moscatel Galego e que atualmente têm na Adega de Favaios o seu maior produtor representando 2/3 do mercado dos moscatéis em Portugal mas atuando especialmente numa gama de baixo preço com um estágio mínimo. Diz-se que era habitual em tempos idos o Moscatel Galego entrar nos lotes de Vinho do Porto emprestando-lhe alguma frescura. Tanto quanto consigo perceber a regulamentação atual que rege o Moscatel do Douro nem sequer há uma obrigação de estágio mínimo para vinhos sem data de colheita sendo esta de apenas 6 meses para os vinhos que têm indicação de idade. O facto de regulamentação ser tão permissiva não me parece ser muito benéfico para a denominação de origem. Apesar disso há produtores a produzirem Moscatel do Douro com qualidade e além da Adega de Favaios, que também têm moscatéis de estágio mais prolongado, existem outros produtores como a Quinta do Portal e a Niepoort cujos moscatéis são de uma qualidade acima da média.


O que é certo é que em termos de moscatéis velhos a única marca que têm uma reserva importante é a José Maria da Fonseca que têm nas suas caves moscatéis desde o inicio do século XX. A José Maria da Fonseca é a grande referencia a nível histórico do Moscatel de Setúbal tendo mesmo desempenhado um papel fundamental na consolidação da práticas produtivas podendo mesmo dizer-se que foi a José Maria da Fonseca que criou o Moscatel de Setúbal tal como o conhecemos.

Mítico é o Moscatel Torna Viagem que como muitas das coisas boas desta vida nasceram de um acaso. O Moscatel era enviado a granel em barricas para o Brasil, África e Índia a bordo de veleiros mercantis para ser vendido à consignação. Por vezes nem todo era vendido, regressava a Portugal e era devolvido ao produtor. Ao ser provado descobria-se um Moscatel muito mais evoluído, complexo e bem melhor do que aquele que tinha saído de Portugal, fruto de um processo natural de estufagem. As últimas garrafas do Torna Viagem original eram de 1884 e foram colocadas no mercado pela José Maria da Fonseca há mais de 10 anos atrás. Encontram-se no mercado em garrafeiras por preços na ordem de 1400€. A José Maria da Fonseca já reeditou por três vezes (em 2000, 2007 e 2010) com o auxílio da Marinha Portuguesa e do Navio Escola Sagres a experiência dos Torna Viagem tendo atualmente nas suas caves barricas com o Torna Viagem reinventado. A atual gestão da empresa familiar José Maria da Fonseca pretende deixar estas barricas como legado para as gerações futuras pelo que não é provável que estes vinhos sejam colocados no mercado no futuro imediato. Mas pode ser que um dia tenha a oportunidade de provar este vinho mítico.


Apesar da muito menor variedade de marcas quando comparado com o Porto, o Moscatel de qualidade é normalmente mais barato que o Porto com o mesmo nível de qualidade sendo, na minha opinião, também mais fácil de beber e de gostar que o Porto. Devem ser bebidos refrescados num copo semelhante ao do Porto. Provem um bom Moscatel e deixem-se cativar por este segredo da margem sul do Tejo.

Gordon Ramsay - www.wook.pt

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