Seguimos erraticamente pelo centro da vila. De novo, seguíamos por instinto mas o caminho parecia desta vez ainda menos certo. Passámos pelo convento feito fábrica agora à espera de melhores dias, atravessamos o jardim chamado de mata até à rua dita do poente. A vontade esmorecia como o dia, decidimos voltar ao ponto de partida e fazermo-nos à estrada de regresso a casa. Sem sabermos, seguimos em direção ao largo que qual sextante indicava o destino. Contornada uma esquina, eis-nos chegados. Entrámos e perguntamos se podíamos sentar e beber qualquer coisa. Houve uma hesitação explicável por ser este um novo princípio. Mas rapidamente refeitos da surpresa logo nos disseram: Entrem e sentem-se. Já virá alguém servir-vos.
Depois do encerramento do Bocca e da vitória do chef Alexandre Silva no TopChef tínhamos curiosidade em ver como seria esta declinação alentejana do cozinha do chef. De vez em quando espreitávamos no blogue da cozinha do restaurante e íamos ficando com água na boca. Estarmos em Vila Viçosa no dia da abertura do Marmòris e não pudermos ir experimentar o Narcissus devido a um serviço de banquete foi um desapontamento. Mas já que ali estávamos a Ana lembrou-se que poderíamos tentar ir beber qualquer coisa ao lobby do hotel. Pelo menos ficaríamos a conhecer o hotel.
O lobby cumpre as expectativas elevadas em termos de trabalho com mármore que vinham a ser anunciadas. Trabalhos bastante minuciosos e opulentos com mármore que por vezes caiem um pouco no kitsch mas o mármore proporciona-se a isso e um pouco de kitsch, na devida medida, nunca fez mal a ninguém. Uma coisa curiosa era parecer existir algum entusiamo com o Marmòris por parte da população de Vila Viçosa, o Manuel Camarinhas da Taverna dos Conjurados já tinha expressado esse entusiamo com a abertura do hotel e enquanto lá estivemos via-se pessoas a entrar para conhecer o espaço tal como se fosse o próprio hotel uma nova atração turística. Sentamo-nos e passados alguns minutos vieram aceitar o nosso pedido. A Ana pediu uma infusão de Erva-Príncipe e eu que não me estava a apetecer nada de muito complicado pedi uma cerveja preta. Digam lá se não é de homem pedir uma cerveja preta no lobby de um hotel de 5 estrelas... Só me ficou a faltar pedir o pratinho de tremoços...
Enquanto esperávamos o chef Alexandre Silva passou pelo lobby e aproveitamos para o cumprimentar. Nunca tínhamos tido a oportunidade de conversar com ele com exceção uma curta troca de palavras no Peixe em Lisboa, quando provei a sua Rabanada, e umas trocas de comentários virtuais via Facebook. Acabamos por conversar um bocadinho sobre esta sua nova experiencia no Marmòris.
O Marmòris não têm como é habitual na maioria dos hotéis um bar no lobby e o serviço do lobby do hotel é assegurado a partir da cozinha do restaurante. O Orlando (espero não me estar a enganar no nome) trouxe a infusão e a cerveja preta acompanhadas por bolo guarnecido com geleia de poejo, uma cortesia do chef, e preparou a infusão à nossa frente com o auxílio de um tabuleiro de apoio. As mãos do Orlando tremiam que nem varas verdes embora isso não tenha perturbado o serviço impecável. Percebemos depois a razão para o nervosismo quando o chef Alexandre Silva nos disse que este era o primeiro serviço no lobby e a primeira vez que faziam o serviço de chá desta maneira. No soft-opening do restaurante, feito na véspera, ninguém tinha pedido chá ou infusões e não se tinha tido a oportunidade de testar este serviço.
Falámos mais um bocadinho com o chef. Sobre as ervas frescas e locais para as infusões, sobre a maneira como serviço do lobby que será feito a partir da cozinha, sobre a Taverna dos Conjurados e sobre isto e aquilo. O chef ainda nos perguntou se ficávamos para jantar mas tínhamos de voltar e teríamos de regressar noutra ocasião para experimentar o Narcissus. Fomos eleitos os primeiros clientes do hotel. É certo que fomos o primeiro serviço do lobby do hotel, o primeiro serviço de chá e eu devo ter sido o único em toda a história da hotelaria a inaugurar um serviço de lobby de um hotel 5 estrelas com uma Sagres Preta. Inevitavelmente, Vila Viçosa, por esta e por outras razões terá de fazer parte dos nossos destinos nos próximos tempos.
De novo seguíamos em direção ao sol, mas desta vez poente. Foi-se escondendo atrás dos montes até que em determinada altura se escondeu definitivamente. A Ana dormitava ao meu lado. Seguíamos para ainda jantar em família e regressarmos a casa nesse dia. Tinha sido um dia cheio o que agora terminava. Neste final de dia sentia-me sortudo como o cowboy seguindo em direção ao pôr-do-sol... I'm a poor lonesome cowboy, I'm a long long way from home...
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