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O Espírito do Bacalhau

O Bacalhau Espiritual foi uma receita da carta original do restaurante Cozinha Velha. Foi trazida para Portugal e baptizada de Espiritual aquando da abertura do restaurante, tornando-se numa referencia da cozinha tradicional portuguesa. Ao longo de gerações o Bacalhau Espiritual fez parte da carta e do menu para casamentos da Cozinha Velha criando uma ligação emocional com muitos dos passaram por este restaurante na segunda metade do século XX.

O Espirito do Bacalhau - reservarecomendada.blogspot.pt

Explorando a ligação histórica deste restaurante ao bacalhau fez-se a Quinzena do Bacalhau que irá disponibilizar um menu com pratos de bacalhau até ao final do mês de Abril. Este menu incluí uma entrada, um prato à escolha e permite usufruir do buffet de sobremesas da Cozinha Velha que é disponibilizado sobre aquela que era a mesa da cozinha do Palácio de Queluz. Segundo o Virgílio Gomes quando construíram o Palácio ergueram as paredes da cozinha julgando que conseguiriam içar a pedra que faz o tampo da mesa por cima destas. Mas a pedra era de tal modo pesada que não conseguiram e tiveram de demolir uma parte da parede acabada de fazer para fazer entrar a pedra que ainda hoje faz parte da mesa em redor da qual a Cozinha Velha se articula. Para saberem um pouco mais sobre a história deste restaurante e em particular sobre o Bacalhau Espiritual recomendo a leitura do ótimo artigo do Virgílio Gomes.


Na véspera do inicio da Quinzena do Bacalhau tive a oportunidade de provar alguns dos prato que fazem parte do menu. Não vale a pena estar aqui com rodriguinhos, se me costumam ler já sabem que vou dizer que gostaria que o bacalhau estivesse menos passado, mas como eu sou uma ave rara devem dar-me esse desconto e se digo que achei um pouco passado demais provavelmente para vocês estará no ponto. Foi nesse tom que comecei a provar a Salada de Pimentos Assados com Lascas de Bacalhau, com o bacalhau ligeiramente passado mas bem temperado e um prato bem conseguido. Gostei da textura e sabor da massa dos Pastéis de Bacalhau mas tal como nas Pataniscas de Bacalhau senti falta que estivessem um pouco mais quentes e estaladiços por fora.



O Vol-au-Vent com Bacalhau em Lasca estava interessante e bem conseguido mas mas não me fez voar no vento. Já o Souflé de Bacalhau cumpriu essa função acabou mesmo por se revelar o melhor prato desta apresentação. Tinha o pormenor interessante de ter hortelã da ribeira na decoração do prato. Acabei por juntar a hortelã da ribeira ao souflé o que lhe deu um toque engraçado e diferente. A rúcula que já tinha feito uma aparição com o vol-au-vent voltou aqui em maior destaque sob a forma de uma Salada de Rúcula e Citrinos que é servida juntamente com o souflé. Eu não sou grande fã de rúcula mas até percebo que o picante e amargo da rúcula podem fazer contrapontos interessantes em certos pratos. Aqui até ligava bem com os citrinos mas confesso que me incomoda a sua omnipresença em saladas verdes. Sendo um vegetal sem tradição na culinária portuguesa não percebo esta obsessão pela rúcula até porque em muitas situações poderia ser substituída por outros vegetais com resultados semelhantes. Um exemplo de um vegetal que poderia fazer essa função seria o bem mais português, agrião. Mas enfim tudo isto não passa de um desabafo...



A Cataplana de Bacalhau estava bem conseguida e plena de sabor tendo como pecha o facto de o bacalhau estar um pouco passado demais para o meu gosto. Mas sendo uma cataplana até fecho os olhos a isso. Finalmente o Bacalhau Espiritual que acabou por ficar aquém das expectativas devido a ter ficado cozido demais. Isso parece ter-se devido fundamentalmente a, para esta apresentação, ter sido feito numa tigela em vez de ter sido feito num tabuleiro de forno como habitualmente. Ficou-lhe a faltar a leveza que é a imagem de marca deste prato.


Além destes ainda é possível optar pelo Bacalhau à Brás com Salada de Alface, pelo Bacalhau com Broa, ou pelas Pataniscas com Arroz de Tomate ou Feijão. Nas sobremesas é obrigatório provar o Pudim Marfim, um pudim de leite que também faz parte da história da Cozinha Velha e que demora 13 horas horas a transformar-se em puro prazer.


Se o brilho e glamour de outros tempos não parece o mesmo, a Cozinha Velha é uma das maiores referencias da história da cozinha e da restauração portuguesa, sendo que esta Quinzena do Bacalhau pode um ser uma boa oportunidade de conhecer ou regressar a esta cozinha cujas paredes transpiram história e de provar um prato emblemático da gastronomia portuguesa que tem aqui a sua casa. Não esquecer que o Bacalhau Espiritual é somente feito sob pedido antecipado pois além da preparação precisa de 45 minutos de forno.

Cozinhar Sem Gastar - www.wook.pt

2 comentários:

  1. Eu lembro-me de ir a esse restaurante no dia de Natal com a familia. O espaço é fixe apesar da chaminé a meio da sala que obriga a um certo cuidado para não mandar lá uma cabeçada. De resto não me marcou muito e nem me lembro bem o que comi por lá. Serei eu um desdentado a quem deram nozes?

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    1. Não me surpreende muito que digas isso. A ideia que tenho é que o período áureo deste restaurante terá sido antes do 25 de Abril. Depois disso parece ter atravessado um período de menor notoriedade e consistência. Nos últimos anos parece estar a existir um esforço para recuperar alguma dessa notoriedade e esta acção encaixa nisso. Mas parece-me que ainda há algum trabalho a fazer e a melhorar para atingir o nível de outros tempos.

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