O vinho do Porto surgiu como todos os vinhos fortificados da necessidade de adicionar aguardente aos vinhos para aguentarem a viagem para outras paragens. No caso do Porto o principal destino era Inglaterra e originalmente o comercio era dominado por comerciantes ingleses que se estabeleceram no Porto e em Gaia onde o vinho era recebido dos produtores e envelhecido para depois ser enviado (originalmente em barricas) para Inglaterra.
Apesar de se chamar Porto a cidade do Porto acaba por ter uma participação muito reduzida no processo de produção. O vinho é produzido nas margens do Douro na terceira mais antiga região demarcada do mundo. Esta região demarcada estende-se ao longo das margens do Douro e de alguns dos seus afluentes desde Barqueiros (a 70 km do Porto) até à fronteira com Espanha. Tradicionalmente as uvas eram vinificadas em adegas perto das vinhas sendo o vinho transportado por barco na Primavera seguinte à vindima para Vila Nova de Gaia que era o único local no qual estava autorizado o envelhecimento e comercialização de Vinho do Porto. Actualmente esta limitação já não existe e alguns produtores envelhecem e comercializam os seus vinhos nas suas adegas no Douro embora os grandes produtores mantenham as suas instalações em Gaia.
O processo de produção do Porto consiste na pisa das uvas em lagar seguida de fermentação durante 3 dias sendo esta parada pela adição de aguardente. Este procedimento deixa parte do açúcar das uvas por fermentar dando doçura ao vinho e aumenta o seu grau alcoólico para 19º a 22º. Tipicamente existem 2 tipos principais de Vinhos do Porto: Ruby e Tawny. Tanto os Ruby como os Tawny normalmente estagiam cerca de 6 meses em balseiros de madeira ou em depósitos de inox ou cimento. Após este período dependendo do fim a que se destinem poderão continuar o seu estágio em balseiros ou em depósitos (Ruby) ou passar para barricas de 550l para continuar o estágio em madeira (Tawny) sofrendo neste caso um envelhecimento oxidativo mais acelerado devido ao maior contacto com a madeira e com o ar.
Os Ruby são normalmente de 4 subtipos: Ruby, Ruby Reserva, Late Bottled Vintage e Vintage. Para ser Ruby basta ter tido 2 anos de estágio em balseiros ou depósito, o Ruby Reserva deverá usar uvas seleccionadas e ter um estágio de pelo menos 7 anos, no Late Bottled Vintage são usadas uvas de qualidade superior de uma única colheita que estagiam entre 4 a 6 anos sendo então engarrafados e nos Vintage são usadas as melhores uvas de única colheita que estagiam 2 anos antes de serem engarrafados. Os Vintage continuam a evoluir em garrafa e beneficiam de se esperar pelo menos 10 anos após a data de colheita antes do seu consumo podendo continuar a evoluir em garrafa durante 50 ou mais anos. Alguns Late Bottled Vintage também podem possuir algum potencial de envelhecimento em garrafa mas menor que os Vintage. Genericamente os Ruby são vinhos de cor granada que por serem sujeitos a uma menor oxidação preservam aromas frutados.
Os Tawny são normalmente de 4 subtipos: Tawny, Tawny Reserva, Tawny com indicação de idade e Colheita. Para ter a denominação de Tawny precisa de ser envelhecido em barricas durante 2 anos, o Tawny Reserva deverá usar uvas seleccionadas e ter um estágio de pelo menos 7 anos (dos quais 6 anos em barricas), nos Tawny com indicação de idade (10 anos, 20 anos, 30 anos e mais de 40 anos) a média de envelhecimento em barrica dos vinhos do lote deverá ser igual ou superior à idade indicada e os Colheita são vinhos de uma única colheita que foram envelhecidos em barrica durante pelo menos 7 anos. Os Tawny não evoluem (pelo menos significativamente) em garrafa e estão prontos a beber quando são engarrafados. Genericamente os Tawny são vinhos de cor âmbar que por serem sujeitos a uma maior oxidação ganham aromas a frutos secos e amadeirados.
Existem ainda os Brancos e Rosés que podem seguir o processo dos Ruby ou Tawny. Os Brancos novos e os Rosés normalmente usam o processo dos Rubys para preservar a sua frescura e os sabores a fruta enquanto os Brancos Reserva, com indicação de idade ou Colheita seguem um processo análogo aos Tawny equivalentes. O grau de doçura poderá também variar em especial para os Brancos podendo um Porto ostentar a designação de Extra-Seco, Seco, Meio-Seco, Doce ou Lágrima (Muito Doce). O grau de doçura será mais elevado quando mais cedo for interrompida a fermentação pela adição de aguardente.
Dependendo do tipo de Porto a garrafa deverá ser consumida após a sua abertura ou poderá ser mantida aberta por um período de até 6 meses. Tipicamente os vinhos que evoluem em garrafa (Ruby) deverão ser consumidos imediatamente enquanto os vinhos que não evoluem em garrafa poderão manter-se em condições durante meses. Um truque fácil para perceber se se pode manter a garrafa aberta é ver qual é o tipo de rolha da garrafa: se a rolha for igual às rolhas do vinho maduro sendo necessário saca-rolhas para abrir a garrafa, o vinho deve ser armazenado deitado e após aberto deverá ser consumido na totalidade; se a rolha tiver uma parte plástica (ou de madeira) no topo que permite a sua abertura sem saca-rolhas, o vinho deve ser armazenado em pé e poderá conservar-se aberto durante vários meses. Eu sou um bocado conservador e acho que mesmo os Tawny velhos se alteram ligeiramente, se a garrafa for mantida aberta durante muito tempo, pelo que após abertos uso rolhas de vácuo mesmo para os Tawny.
Os Porto com uma boa qualidade começam com alguns Reserva a preços na ordem dos 10€. Na gama dos 15€ começam a aparecer alguns Colheitas Novos e LBV de qualidade. A partir de 20€ pode-se encontrar alguns 10 anos. O Vintage, Colheitas Velhos e Tawny 20 anos ou mais velhos têm preços a partir de 30€ podendo atingir preços na ordem dos milhares de euros dependendo da sua idade e qualidade. Para quem não conhece bem o Vinho do Porto e que queira comprar uma garrafa para alargar os horizontes recomendo que se comece por um LBV. Consegue-se comprar bons LBVs a um preço não muito exagerado e é um tipo de Porto com um perfil diferente dos Tawny correntes e mais semelhante aos Vintage.
As vedetas do Vinho do Porto são os Vintage que são declarados com pompa e circunstancia 2 anos após a colheita embora se deva aguardar mais anos (alguns produtores recomendam um mínimo de 10 anos) antes do seu consumo podendo evoluir graciosamente 50 ou mais anos. Mas os verdadeiros corredores de fundo são os Tawny velhos dos quais existem no mercado vinhos com mais de 100 anos. Os Colheita podem ser uma boa prenda de aniversário pois não é difícil de encontrar um Colheita para qualquer ano de aniversário desde a década de 60 por preços abaixo de 100 euros.
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