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Velhos são os trapos

aqui falei disto e como já devem ter reparado que gosto de vinhos com estágios mais longos e é sempre com espectativa que abro garrafas de vinhos mais antigos. Incomoda-me que sejam colocados no mercado vinhos demasiado jovens, muitos deles que nunca chegam realizar o seu verdadeiro potencial. O que é certo é que a maioria dos consumidores prefere vinhos jovens, exuberantes e cheios de fruta. Isso faz com que os produtores acabem por colocar os seus vinhos cada vez mais cedo no mercado pois isso até lhes convém por questões financeiras e se não o fizerem correm o risco de não conseguirem colocar os vinhos no mercado devido a falta de recetividade dos consumidores a esses vinhos com um estágio mais longo. E entramos num círculo vicioso ficando o consumidor cada vez mais habituado a vinhos novos…

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Com o meu eterno espírito de contradição cada vez mais vou guardando vinhos para beber mais tarde e quando encontro vinhos velhos a bom preço vou comprando para experimentar. No início do ano o João Chambel organizou uma prova de vinhos velhos no Vestigius a que não tive oportunidade ir mas fiquei a babar nas fotografias que foram partilhadas nas redes sociais. Recentemente foi organizada uma nova prova de vinhos velhos e não quis deixar de estar presente. Poder provar uma seleção de vinhos velhos, alguns quase com 40 anos, é sempre aliciante. Esta prova foi feita em parceria com a Garrafeira Estado d’Alma e era possível adquirir os vinhos provados ali mesmo.


Começámos com dois brancos e se o Quinta do Estanho 1996 apesar de ainda em forma para um branco com quase 20 anos não estava extraordinariamente interessante, o outro foi uma grande surpresa, um improvável Grão Vasco Branco 1995 que não devendo ser um vinho extraordinário na sua juventude estava bastante interessante nesta sua meia idade. Ainda com boa acidez e bastante aromático, sobressaindo espargos e flores brancas estava em grande forma. Há muitos vinhos brancos que gostariam de ser assim quando fossem grandes.


Nos tintos começamos com dois Serradayres o 1976 e o 1984, por um Adega Cooperativa de Portalegre 1987 que estavam ainda em forma embora a mostrar já algum cansaço para chegarmos ao Borges Bairrada 1985 que era um exemplo da afamada longevidade da Bairrada. Do José de Sousa 1997 esperava-se um pouco mais pois estes vinhos têm fama de evoluir graciosamente durante muitos anos não sendo esta garrafa um dos melhores exemplos disso. Seguiu-se o vinho que talvez até não sendo o melhor era aquele que refletia melhor o espírito desta prova. O Borges Tinta Roriz Dão 1999 mostrava um perfil de vinho velho com alguma terra molhada mas ainda com uma cor granada, boa acidez e aromas balsâmicos. Houve quem preferisse o Luis Pato 2000 que se seguiu mas a mim este pareceu-me um pouco animal e com alguns aromas um pouco sujos o que não me agradou completamente.


A partir deste ponto passámos para um perfil um pouco diferente com vinhos a que dificilmente se dariam os mais de 10 anos que já tinham. Coisas como Capela Sta Margarida 1999, marca da Plansel que não conhecia, como o João Portugal Ramos Tinta Caiada 1999, como o Quinta da Terrugem 1997 ou como o Quinta da Cortesia Touriga Nacional 1999. Todos em grande forma ainda a mostrarem cores bastante jovens e que apesar de mostrarem um perfil mais elegante, fruto da meia idade, ainda tinham muita vida para mostrar. Fica-se na dúvida do porquê destes vinhos serem postos de lado senão por puro preconceito. Fiquei indeciso entre o João Portugal Ramos Tinta Caiada 1999 e o Quinta da Cortesia Touriga Nacional 1999, o primeiro mais exuberante e incrivelmente bem conservado o segundo mais elegante e circunspecto.


No final da prova ainda tivemos a oportunidade de provar um pouco de uma preciosidade, o Visconde de Salreu Collares 1950. Não estando em plena forma era ainda assim uma grande experiencia com a salinidade característica destes vinhos a lembrar o mar sobranceiro às vinhas que lhe deram origem. Um grande exemplo da longevidade verdadeiramente invulgar dos vinhos de Colares.


Esta prova mostrou como há muito potencial inexplorado nos vinhos velhos e é pena que não sejam mais valorizados. E pelos preços a que se conseguem encontrar em alguns sítios vale bem a pena arriscar mesmo que por vezes tenhamos algumas desilusões, mas as grandes experiencias vão certamente compensar a desilusões.

Artigo originalmente publicado na Tourvinico.



Dias Felizes com Jamie Oliver - www.wook.pt

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